As primeiras horas de
Battlefield Hardline não se assemelham em nada aos últimos jogos da franquia. Com uma apresentação inspirada na estética de séries de TV, o título da Visceral Games se aproxima mais de experiências narrativas como Uncharted, Batman: Arkham e Tomb Raider do que as explosões cinematográficas dos FPS de grande orçamento como Call of Duty ou o próprio Battlefield 4. O roteiro não é um primor, mas divide atenção com as inovações propostas tanto na campanha quanto no multiplayer; e ambos, sem perder a identidade tática e variável da franquia, conseguem mostrar caminhos a serem trilhados no futuro.

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Durante a aventura de Nick Mendoza, o policial cubano residente em Miami controlado pelo jogador, o tiroteio é apenas uma das possibilidades oferecidas. Dos dez capítulos espalhados nas quase nove horas de campanha, mais da metade deixa o pente de balas cheio, caso seja desejo de quem está no controle. Prender bandidos, identificar traficantes ou simplesmente apagar inimigos rendem tantos (ou mais) pontos do que fazer uma chacina no terreno. O controle das armas, aliás, é levemente mais automático do que os títulos anteriores - em boa parte das sequências de ação, a IA ajuda o jogador a mirar nos adversários (mais uma semelhança com jogos de terceira pessoa focados em narrativas). Os veículos estão presentes como sempre, grande alteração na jogabilidade, mas com uma variedade maior, pois agora carros esportivos e tanques de velocidade estão disponíveis - e eles melhoram a experiência como um todo. Hardline é o mais leve e urbano de todos os jogos da série. Um Battlefield das ruas.

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Para concluir a imersão, faltou ao game uma dublagem em português de primeira. Em inglês o padrão é mantido, dando uma personalidade interessante à Mendoza - um sujeito que preza pelas idoneidade pessoal e corporativa. O ator Nicholas Gonzalez é o responsável pela voz do policial. No Brasil, a Warner Games decidiu apostar em Roger, o vocalista do Ultraje a Rigor. Escolha compreensível em questão de marketing, erradíssima em relação à qualidade. Cantor por profissão, Roger não dá vida ao personagem, apenas joga palavras na sua boca, sem emoção ou entoação que varie mais de um grito a um sussurro. Os diálogos entre ele e Khai, sua parceira, já não são bem escritos, e passam longe de convencer sem a dublagem correta.

Para amenizar essa falha de identificação com os personagens causada pelas vozes, a versão para PlayStation 4 e Xbox One traz expressões faciais excelentes. Sem querer representar com exatidão seus dubladores (Alexandra Daddario, Kelly Hu, Benito Martinez), o game mantém o foco em conhecer aqueles personagens que estão ali na tela e não a personalidade que os dá vida. Por outro lado, a destruição do ambiente e os veículos poderiam ter um cuidado maior da Visceral - sequer as partículas, tão usadas nos primeiros jogos da geração, saltam aos olhos. As fases na água também remetem aos gráficos de PlayStation 3, tanto na definição quanto na programação; os jacarés se comportam sempre da mesma forma, assim como a reação da água a qualquer movimento ou objeto que esteja dentro dela.

Esse estilo gráfico dos ambientes se repete nas partidas multiplayer, que no fundo é o grande atrativo de um Battlefield. E no caso de Hardline, a Visceral manteve a proposta de variar o estilo da franquia. Os modos clássicos de Conquista, Deathmatch e todos os outros estão presentes, mas com uma abordagem diferente, quase sempre voltada para uma disputa entre polícia e ladrão. Os melhores são o Ligação Direta, onde os times precisam roubar e recuperar carros, e o Roubo, onde é preciso levar um carro blindado até um certo local. A facilidade encontrada na adaptação da campanha não está presente no multiplayer, que é pura competitividade e cooperação; dependerá do modo. A boa notícia é a estabilidade encontrada nos (bons) mapas e servidores de Hardline, diferente de seu antecessor, conhecido por ser um título problemático para EA. Nesse quesito, os fãs terão um jeito diferente, mas suave de disputar partidas online.

O visual, os controles e a apresentação fazem de Hardline um shooter ideal para quem não é familiarizado com o gênero. A narrativa não é exemplar e ainda se desgasta com uma dublagem amadora desnecessária - mesmo com esses problemas, a campanha principal é divertida como se espera de um título como esse. Assim, ao lado multiplayer de boa qualidade e da nova ambientação composta pela Visceral, esse Battlefield é um jogo digno da franquia e que vale o investimento.

Battlefield Hardline está disponível para PlayStation 4, Xbox One, PlayStation 3, Xbox 360 e PC. A versão testada foi a de PlayStation 4.

Nota do crítico