O Brasil é um pais onde os jogos são caros, o que aumenta o desafio das principais empresas do setor. Para a Ubisoft, uma das soluções foi divulgar suas marcas em outros tipos de mídia, vendendo camisetas, livros e até mesmo perfumes de jogos como Assassin's Creed.

"A divisão para a qual reportamos, nos Estados Unidos, achava que a gente era maluco. Fazer perfume, investir todo o nosso dinheiro em mídias sociais e parcerias com youtubers locais por um ano...", conta Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft para América Latina. Mas a estratégia deu certo: "Depois que eles começaram a ver resultados, começaram a entender o que fazemos. Nossa fatia de mercado aqui é a maior das Américas, e bem maior do que nos Estados Unidos", diz o executivo em entrevista ao The Enemy.

O crescimento da importância do Brasil para a Ubisoft pode ser vista até mesmo no conteúdo de seus jogos: Just Dance já teve canções de Anitta e Daya Luz, e Rainbow Six: Siege contou com dois personagens do BOPE em uma de suas expansões. "Pessoalmente, eu 'vendo' o Brasil como um laboratório de experiências disruptivas para a Ubisoft, um bom lugar para testar ideias novas. O que dá certo aqui é replicado no México, na Argentina... e agora estão começando a replicar nos Estados Unidos."

Muito embora o país ainda tenha aumentado a sua importância dentro da estrutura global da Ubisoft, Chaverot acredita que o país ainda está distante de integrar a rede de estúdios de jogos de alto orçamento da publisher. A empresa tem escritórios de produção de jogos por todo o mundo - Estados Unidos, Canadá, Singapura, França, Itália, Romênia -, mas o Brasil não é um deles. E, para o executivo, ainda estamos longe de chegar neste ponto.

"Ainda estamos distantes porque não tivemos mudanças de ecossistema, direito do trabalho, impostos. Sem mudanças radicais, o Brasil vai continuar na segunda divisão em inovação no ramo de games", diz Chaverot. "Para estúdios menores, que produzem jogos para mobile, tudo bem. Mas para equipes grandes, que precisam de investimento, ainda não dá."

Para Chaverot, realidade em que Brasil ganha estúdio AAA da Ubisoft está distante

Ubisoft/Divulgação

Segundo o diretor, o motivo principal é o excesso de impostos. "O Brasil é um dos poucos países que tributa investimentos produtos. Se eu trouxer US$ 2 milhões em máquinas para fazer um produto aqui, serei taxado, porque importei coisas que não existem no país", explica, ressaltando que, apesar de todos os entraves, há, sim, desenvolvedores brasileiros talentosos. "Tem muito produtor que saíu do Brasil e está nos EUA, Canadá, China. Não só na Ubi, como em outros estúdios. O jovem que quer uma experiência nessa área sabe que a melhor chance é fazer uma carreira fora do país."

Eventos

Outra estratégia de diversificação da Ubisoft para o Brasil é investir em eventos e eSports, como o Just Dance Tour (que teve uma das etapas durante a GameXP) e o Brasileirão de Rainbow Six - especialmente em mais cidades pelo país. "Tem muita cidade de tamanho médio que é carente de evento, então imediatamente quando tem algo, o interesse local é grande. Muita gente vem. Essa dimensão é receptiva para os esforços que você faz, e o tamanho recompensa se você fizer direito", conta Chaverot.

"Queremos fazer mais conteúdo criado para a comunidade e com a comunidade. Estamos trabalhando em uma ferramenta para criar missões e desafios com a comunidade no mundo real também. Estamos trabalhando isso para o Brasil. E, se der certo, podemos expandir para outros países", finaliza o executivo.

Bertrand Chaverot fala sobre as estratégias da Ubisoft para o país