Se as conferências da EA Bethesda Softworks deixaram a desejar por falta de grandes anúncios ou simplesmente por adotarem um formato estranho, a Ubisoft foi o total oposto. A conferência da criadora de Assassin's Creed Far Cry foi recheada de anúncios grandes e novas franquias, fugiu de todas as tendências que geravam vergonha alheia, e trouxe nova vida para os principais títulos da empresa. Colocando as fabricantes de console de lado, essa foi a melhor coletiva da E3 2017.

Em primeiro lugar, a conferência da Ubisoft deu um novo gás em duas de suas franquias que estavam começando a ficar cansadas. Assassin's Creed Origins não teve muita presença na apresentação, mas combinando o que foi mostrado lá com o que vimos na conferência da Microsoft, o jogo parece ser o que a franquia precisava. Depois de dois anos de hiato, a série está voltando maior do que nunca. Gameplay estilo RPG, árvores de habilidade, mudanças pontuais no combate e locomoção, e um mapa gigantesco indicam que ele não será simplesmente mais do mesmo, como muitas vezes acontece com estes títulos.

"Assassin's Creed Origins parece ser o que a franquia precisava"

Já Far Cry 5 não teve a demonstração de gameplay mais impactante de todas, mas continua impressionando pela maneira como está abordando a temática polêmica de uma ceita racista e nacionalista no coração dos Estados Unidos. A imagem final do trailer, com o antagonista do jogo segurando um rifle na frente de uma bandeira norte-americana modificada enquanto "Amazing Grace" toca, é uma das cenas mais marcantes de toda a E3.

Far Cry 5 parece ter algumas mudanças na fórmula, mas seu sucesso, mais do que nunca, dependerá mais dos personagens e história. Isso são elementos que não podemos avaliar em uma demo de cinco minutos, mas até agora, parece que a Ubisoft está indo na direção correta. Uma coisa é certa: ter um cachorro que te ajuda no combate atacando inimigos e trazendo suas armas até o protagonista já é um grande bônus.

Mas a melhor parte da conferência foi, sem dúvida, ver a Ubisoft investindo em novas franquias e tipos de gameplay. Por mais que ele pareça uma péssima ideia no papel, não posso negar que Mario + Rabbids: Kingdom Battle me deixou curioso. A ideia de um RPG leve com gameplay tático estilo XCOM, só que mais simplificado, em um sistema portátil como o Nintendo Switch, é uma boa jogada. Jogos de estratégia são quase sinônimos com plataformas móveis, e Mario + Rabbids parece acessível o suficiente para funcionar nesse esquema.

Obviamente é possível que Mario + Rabbids seja enjoativo depois de algumas horinhas. Os Rabbids continuam sendo parecidos demais com os Minions para o meu gosto, mas foi difícil não sorrir vendo Shigeru Miyamoto subindo ao palco. Se Kingdom Battle conquistar o sentimento de diversão que sempre habita nos jogos da Nintendo, ele já terá uma grande chance de dar certo.

Outra novidade que já havia vazado foi Skull and Bones, um jogo de piratas multiplayer sendo desenvolvido pela Ubisoft Singapura, o time por trás do excelente Assassin's Creed IV: Black Flag. Ele claramente foi baseado no ótimo combate de barcos daquele jogo, mas traz novas expansões para a fórmula. Agora é possível comandar diferentes membros da tripulação, há mais maneiras de atacar os inimigos, e a interação com outros jogadores - trabalhando juntos, batalhando e executando traições - pode criar um verdadeiro ambiente de piratas.

É um fato de que o jogo pode parecer um pouco demais com Black Flag, e não há como dizer se o combate de barcos consegue sustentar um ecossistema online sozinho. Se Skull and Bones seguir a tendência deixada por games como Destiny e - outro game de piratas, talvez seu principal rival - Sea of Thieves criando um mundo interconectado, onde você pode navegar sozinho mas também encontrar embarcações controladas por outras pessoas, então as chances dele competir nesse novo segmento da indústria são grandes. Não está claro ainda se Skull and Bones terá exploração a pé nas ilhas, mas isso certamente ajudaria a garantir longas pernas para o gameplay, que contaria com uma variedade de mecânicas.

A revelação de um kraken no final do trailer também foi fascinante. Os mitos de piratas são vastos - até por isso a Disney já fez cinco filmes de Piratas do Caribe - e explorar isso pode adicionar um quê de surpresa ao jogo. Uma criatura marinha gigante pode servir como um fator de desequilibro, e permite os desenvolvedores da Ubisoft a expandir a mitologia de Skull and Bones, especialmente na hora de criar lore, algo que pode ser utilizado de diversas formas para contar histórias do jogo, mesmo que sem uma narrativa com diálogos. Essa pode ser a próxima grande franquia da Ubi.

Skull and Bones pode ser a próxima grande franquia da Ubi

A outra nova franquia que pode ser interessante é Starlink: Battle for Atlas, mas nós não vimos o suficiente para ter certeza de sua qualidade. A ideia de trocar peças dos brinquedos de naves e isso afetar o jogo instantaneamente é interessante, mas o risco dele se tornar "apenas mais um Skylanders" é grande. De qualquer forma, é mais um conceito diferente do que normalmente vemos da Ubisoft. O potencial existe, mas a execução ainda está em dúvidas.

E para encerrar, a Ubisoft teve um dos momentos mais inesperados e surpreendentes da E3 2017. Michel Ancel foi ao palco - com lágrimas nos olhos - para anunciar que Beyond Good and Evil 2 está vivo. Um novo trailer CG foi divulgado - o gameplay será demonstrado apenas atrás de portas fechadas - e a reação online foi impagável. Não vimos muito, mas isso, por hora, foi suficiente. Foi uma ótima forma de encerrar uma ótima apresentação.