Como um termostato pode aquecer a briga entre Amazon e Google

Não listagem de novos produtos da Nest pela Amazon seria parte das ambições da varejista na briga pelo setor de automação residencial

Por Rafael Romer 05.03.2018 15H50

A guerra fria entre as gigantes AmazonGoogle pelo domínio da automação doméstica pode aquecer consideravelmente, indica a notícia de que a varejista eletrônica decidiu não vender os produtos mais recentes da Nest em seu comércio eletrônico.

A informação foi divulgada na última sexta-feira (02) pela Business Insider, que afirma ter conversado com uma pessoa próxima ao tema que revelou o episódio.

Novo termostato E da Nest, revelado em setembro

Divulgação/Nest

De acordo com a publicação, a Amazon teria entrado em contato com o time da Nest no final do ano passado, afirmando que os novos produtos da companhia – que inclui o mais novo termostato da Nest – não seriam listados na plataforma.

Segundo os representantes da própria varejista, a exclusão dos produtos não teriam relação com sua falta qualidade  – já que a empresa costuma ser elogiada por consumidores  –, mas sim por uma suposta decisão “de cima”, sugerindo que estratégia poderia ter vindo diretamente de Jeff Bezos, CEO da Amazon.

Decisão de vetar produtos poderia ter vindo de Jeff Bezos, CEO da Amazon

Reprodução

Adquirida pelo Google em janeiro de 2014, a Nest ficou famosa por seu termostato inteligente, capaz de conectar-se ao Wi-Fi doméstico, aprender com o padrão de uso de cada casa e de entrar no modo de economia automaticamente quando identifica que não há ninguém em casa. Desde então, a empresa diversificou seu portfólio, incluindo sistemas como Nest Hello, Nest Secure e Nest Cam IQ Outdoor, apresentados no ano passado.

Ring é o mais novo investimento da Amazon em automação residencial

Divulgação/Ring

Como resultado da decisão da Amazon, a Nest também decidiu não vender mais produtos atuais na Amazon – ou seja, assim que os estoques acabarem, a Nest estará fora da Amazon oficialmente.

Apesar de polêmica, a decisão da Amazon não é necessariamente uma surpresa: conforme a empresa avança seus esforços e investimentos no setor de casas inteligentes, o Google se mostra como um dos maiores rivais. De certa forma, vender produtos da Nest diretamente seria o equivalente a Apple vender o novo Galaxy S9 dentro de suas próprias lojas de varejo.

A Nest, aliás, é só mais uma na lista de produtos da Google que não são vendidos na Amazon – a empresa também exclui listagens do próprio Google Home e smartphones Pixel. Há pouco mais de três meses, a empresa até prometeu que voltaria a vender o também excluído acessório Chromecast em seu varejo eletrônico, mas isso não aconteceu até agora.

Do lado da Google, a gigante das buscas retaliou essas decisões bloqueando o app do YouTube nas plataformas Fire TV e Echo Show, ambas da Amazon.

E conforme as duas companhias seguem reforçando seus esforços no setor, a expectativa é que essa briga só fique mais acirrada nos próximos meses.

Afinal, ambas disputam o mercado com seus próprios alto-falantes domésticos inteligentes – Google Home e Amazon Echo. E apesar da popularidade crescente destes produtos em países como os Estados Unidos – onde uma pesquisa recente da Edison Research apontou que 39 milhões de americanos já possuem esse tipo de produto em casa – esse é só o primeiro passo na guerra da automação doméstica.

Com cada vez mais Echos e Homes dentro das casa de usuários, a expectativa é que eles sirvam como “hubs” para controle e conexão de outros produtos inteligentes – afinal, quem não gostaria de dar um simples comando de voz para sua própria casa e ter todas as luzes apagadas, portas trancadas e despertador acionado logo antes de dormir?

Nesse cenário, a briga dessas empresas agora é garantir que todos os produtos que estejam conectados aos assistentes pertençam aos seus próprios ecossistemas, garantindo que a inteligência artificial de cada casa conectada seja a sua, não a da rival. Para garantir que essa estratégia funciono, aparentemente vale qualquer coisa que não seja ilegal.

E os investimentos pela automação doméstica continuam: do lado da Google, a empresa reabsorveu a Nest para sua linha de hardware em fevereiro para reapróximá-la de seus esforços unificados, além de continuar diversificando sua oferta de produtos inteligentes – que já inclui até roteadores inteligentes.

A Amazon, por sua vez, acabou de confirmar a aquisição por US$ 1 bilhão da Ring, empresa de campainhas inteligentes que utilizam câmeras. Além de reforçar sua linha de hardware para casas conectadas, o produto é considerado estratégico para o serviço de entregas da Amazon, que poderá ser facilitado pelo reconhecimento facial de entregadores.

Se confirmada a não listagem dos novos produtos da Nest na Amazon, agora nos restaria ver qual será a reação do Google: retaliar a adversária de alguma outra forma ou não escalar ainda mais a disputa, mantendo o foco nos seus próprios esforços?