Street Fighter | Vencedor da Capcom Pro Tour Brasil Keoma vai também ao DreamHack

Graças ao apoio da comunidade brasileira de Street Fighter, o jogador viajará até a Suécia

Por Barbara Gutierrez 14.10.2015 16H25

Keoma Pacheco tem 26 anos, trabalha como Secretário no ramo de Agenciamento de Cargas e foi o grande vencedor da Capcom Pro Tour Brasil, conseguindo sua vaga na Capcom Cup para representar o país na disputa de Ultra Street Fighter IV.

A trajetória do brasileiro no ramo de eSports da cena é muito interessante. Antes de disputar essa etapa Premier durante a Brasil Game Show, no dia 12 de outubro, Keoma também quase conseguiu chegar à EVO, um dos maiores campeonatos de luta do mundo. Uma campanha realizada por membros da comunidade brasileira de Street Fighter conseguiu arrecadar dinheiro suficiente para o jogador poder viajar e disputar em Las Vegas, no período de julho, mas infelizmente por complicações de vistos, Keoma não pôde chegar à EVO.

Por conta disso, João "JoãoJotão" Fernandes Gonçalves Junior, um dos responsáveis por levantar essa campanha, resolveu continuar na batalha para conseguir que o jogador entrasse em uma grande disputa internacional. Por acreditar no potencial do brasileiro, ele conseguiu tornar possível uma viagem à Suécia para que Keoma disputasse o DreamHack Winter. Nós do Omelete conversamos com João para entender mais essa trajetória.

O objetivo inicial era levar Keoma para a EVO, mas isso não aconteceu. Quais foram os problemas ocorridos?
João: Um colega de Brasília, Longomar, me procurou. A gente ia pra Evolution, que é a copa do mundo dos jogos de luta, e faríamos uma campanha coletivo pra levar o Keoma. Como eu tenho o hábito de organizar eventos, levantar e tudo, me animei e me identifiquei. Fiz o financiamento coletivo no Kickante com uma meta de R$ 5 mil, levantei alguns premios pra comunidade - muitas doações, como é de costume - e a galera respondeu super bem, levantou a grana todinha faltando 5 dias para campanha acabar e superou a meta em R$ 1.200. Fiquei super feliz, mas infelizmente quando a gente foi pedir o visto do Keoma, ele foi negado, porque a embaixada americana julgou que ele não tinha vínculos suficientes no Brasil. A gente até tentou uma 2° tentativa de visto com uma finalidade diferente, mas deu pane no sistema mundial de vistos e tivemos que abortar a ideia.

Depois disso, como vocês chegaram à ideia de levar o jogador para o DreamHack, na Suécia?
João: Eu fiz uma votação fechada entre os doadores. Primeiro falei: "galera, é o seguinte, vamos devolver o dinheiro para vocês com a dedução dos 12% que o site me deu de comissão", mas um grande amigo nosso da comunidade, Fuba, me deu a sugestão: levar o keoma pra um outro evento grande Premier, igual a esse da Brasil Game Show, que não exija visto. Procurei algumas opções e optei pela Suécia porque eu tenho uma parente que mora lá, tenho uma tia que poderia abrigar a gente barateando o custo da viagem. Então fiz uma votação fechada com a galera e o pessoal descidiu por unanimidade levar ele pro DreamHack Winter.

Qual é o diferencial do jogador, na sua opinião?
João: Desde o início eu vi o Keoma jogando muito, vi que ele mandava bem, então observei que tinha um diferencial nele em relação aos outros jogadores. Ele não joga só por instinto puramente, é um jogador técnico que sempre registrou suas anotações em seu blog, é um estudioso. Ele tem realmente noção do que faz, procura se espelhar no que tem de mais alto patrão do Street Fighter, enquanto os outros jogadores tem mantido mais ou menos o mesmo nível. A galera melhora, mas a curva de aprendizado do Keoma tem sido muito maior do que as outras.

Como acha que Keoma vai se sair nos campeonatos internacionais?
João: Eu acredito sinceramente que essa pedra no sapato foi justamente o que mudou a motivação dele. Quando eu o vi em Brasília na época em que ele pediu o visto, eu via o foco dele mas tinha um olhar meio vazio. Hoje ele estava completamente diferente, com fome de vitória. Eu nunca vi o Keoma tão focado, tão positivo. O céu é o limite para esse cara, ele vai para a Europa e vai destruir. Ele vai lá para os Estados Unidos, se o povo pensar que ele é "Free" [expressão que significa "noob"], fica a lição pra galera da comunidade internacional: o Brasil não é "Free". Galera eliminou o Pepeday, considerado o melhor jogador com o personagem El Fuerte do mundo, eliminou o jogador Haitani. O personagem Rufus é uma match péssima pro personagem Abel e ele [Keoma] ganhou. O Haitani tentou mudar pro personagem principal dele, a Makoto, e foi pior ainda, então eu estou muito feliz em ter acreditado nesse cara desde o começo.

E a situação do visto do Keoma não será problema para a Capcom Cup, realizada em São Francisco, nos Estados Unidos?
João: Logo após o torneio, um dos representantes da Capcom, o Fabio Santana, me procurou e me apresentou o diretor de relacionamento da Capcom, o sr. Jean Toledo. A Capcom se comprometeu a se mobilizar e providenciar toda a assistência necessária, o que inclui serviços de consultoria especializados em vistos para os Estados Unidos para garantir que todo o processo corra bem dessa vez e ele consiga o visto para a Capcom Cup. Eles inclusive estão cientes dos erros que cometeram com o Breno F1ght3rs (Breno Mateus, venceu Tokido no campeonato Street Fighter 25 anos aqui em São Paulo) em 2012 e vão fazer o que for necessário pra ter a certeza absoluta que o Keoma faça presença nos dias 5 e 6 de dezembro.

Logo após a vitória de Keoma na Capcom Pro Tour Brasil, durante a BGS, também falamos com o jogador. Na final, ele venceu por 3 a 1 o japonês Tatsuya Haitani, considerado um dos cinco "deuses" de Street Fighter, junto a grandes jogadores como Daigo "The Beast" Umehara, Naoto "Sakonoko" Sako, Hajime "Tokido" Taniguchi e Oonuki "Nuki" Shinya. Veja como foi o papo:

Como você se sente sobre essa recente vitória, depois de tantos problemas?
Keoma: Eu acho sensacional, eu ter ganho a vaga mas de saber quanto trabalho eu tenho mais pela frente para participar da Capcom Cup eu mal consigo botar a mente na vitória momentânea que é hoje. A minha mente já está no preparo da Capcom Cup em dezembro, e todos os próximos campeonatos, então o foco é esse.

Sabendo todos os adversarios que você tem pela frente, você se sente meio receoso?
Keoma: Na verdade sim, porque eles também sabem quem eu sou apartir de hoje, então eles também vão estar prontos para mim. A competição é no nível mais alto do mundo.

Qual é o seu preparo para os campeonatos?
Keoma: Especificamente para o campeonato de hoje, foram treinos de aproximadamente umas 2 horas por dia. Alguns meses eu não cheguei a jogar e alguns dias chegou a dar 10 horas de jogo, alguns sim, outros não. Não é todo dia que eu jogo, mas é sempre em cima de assistir partidas minhas ou de jogadores que utilizam de mesmos personagens que eu para entender quais são os buracos do personagem e do jogador, quais erros eu deveria corrigir, para apartir daí ser bastante individual. Não exatamente procurar hábitos dos meus oponentes, mas procurar defeitos no meu jogo.

Como você pretende deixar sua rotina para o DreamHack e a Capcom Cup?
Keoma: Eu pretendo manter a mesma rotina, só vai ser um pouco mais intensa porque o trabalho é um pouco maior e a gente vai lidar com oponentes de grande capacidade de adaptação.

O que você tem a dizer sobre os problemas enfrentados anteriormente?
Keoma: Bem o que eu tenho a dizer sobre minha trajetoria é: muito obrigado a todo mundo que participou dela, graças a todas as pessoas que eu enfrentei de uma maneira ou de outra eu estou aqui então eu devo isso aos meus oponentes.

Keoma estará disputando no DreamHack Winter nos dias 26 a 29 de novembro, em Ionecopinga, na Suécia; e na Capcom Cup nos dias 5 e 6 de dezembro em São Francisco, nos Estados Unidos.