Jogamos 4 horas: Days Gone traz mundo aberto manjado, mas autêntico

Game da Sony Bend une mecânicas conhecidas para fazer um pós-apocalipse de respeito

Por Bruno Silva 06.03.2019 20H29

Eu vou confessar que não estava muito empolgado com Days Gone. Seja pela ambientação batida, seja por estar em um line-up de exclusivos com pesos pesados como The Last of Us: Part II e Death Stranding, o game de PlayStation 4 não estava na minha lista de jogos mais aguardados justamente por acreditar que ele não tinha nenhum elemento que me chamasse a atenção.

Então eu joguei Days Gone, e me surpreendi.

Calma, Days Gone não deve ser nenhum tipo de experiência transcendental no naipe de outros exclusivos da Sony nos últimos anos, mas é um jogo honesto. Em produção desde 2013 (ano de lançamento do primeiro The Last of Us, diga-se de passagem), o título do Bend Studio pega boa parte das mecânicas que vigoram no gênero de mundo aberto e as assimila em uma proposta que, apesar do tema manjado, tem sua autenticidade.

A sessão foi parte de um teste realizado em São Francisco, nos Estados Unidos, em meados de fevereiro, que o The Enemy participou a convite da Sony. Tivemos acesso a quatro horas de gameplay, em uma build que mostrou o início da história, e depois cortou para um momento mais avançado, na qual o protagonista Deacon St. John tinha acesso a todas as suas habilidades.

O início serviu para mostrar a vida de Deacon no momento em que os Freakers, os mortos vivos deste universo, começam a destruir a humanidade. Também serve para nos familiarizarmos com Boozer, seu melhor amigo, cuja relação de irmandade típica da cultura de moto clube é uma parte importante da história - ambos já eram motociclistas antes da infestação de mortos-vivos.

Como se trata de um mundo aberto, é de se esperar que exista uma linha de história principal e missões paralelas, mas Days Gone decide mudar um pouco esse paradigma. No lugar dessa divisão, há linhas de história: cada missão avança uma linha de história diferente, geralmente relacionada a um personagem. Boozer, por exemplo, tem sua linha de história, já que, no início do jogo, ele tem o braço machucado pelos mortos-vivos, e você precisa ajudá-lo a se recuperar para que vocês saiam em viagem - outro objetivo estabelecido no começo da trama.

Obviamente, há alguns missões mais banais (como as de limpar ninhos de Freakers, necessárias para abrir pontos de viagem rápida), mas essa falta de divisão ajuda a integrar a história com o que você faz no mundo, transformando cada atividade do jogo em algo significativo.

Sony/Divulgação

Boa parte do jogo também gira em torno dos vários acampamentos presentes no mundo de Days Gone. Cada um destes locais oferecem um suporte diferente a Deacon. Neles, é possível melhorar sua motocicleta (mais sobre ela adiante), recuperar pontos de vida e trocar recursos. Porém, é preciso ganhar a confiança dos mandatários de cada acampamento, que possui suas linhas de história.

Gameplay

Com o controle na mão, Days Gone não foge muito do que se espera de um jogo de mundo aberto. Os atos de se locomover, a pé ou com a moto, e o combate são competentes, mas não têm nada de especial. A grande assinatura aqui fica por conta de hordas de zumbis, que surgem como um grande desafio para o jogador. Estar cercado de mais de três mortos-vivos já traz grande desvantagem - imagine enfrentar 500 de uma vez só.

Sony/Divulgação

Como todo jogo de sobrevivência, Days Gone também é focado em gerenciamento de recursos. Um dos principais elementos nesse sentido é a moto, essencial para todo tipo de deslocamento. Mas, para manter a moto em ordem, é preciso mantê-la abastecida e em bom estado. Dirigir de forma displicente, atropelando objetos e pulando de uma altura elevada, é pedir para que sua moto quebre.

Os efeitos de durabilidade também se estendem a recursos, necessários para montar itens de cura, e armas brancas, que podem quebrar com o uso (com exceção de uma faca). Mas, curiosamente, o jogo não trabalha com a mesma escassez comum em games de sobrevivência. Os recursos não são abundantes, mas também não são difíceis de encontrar.

O que Days Gone consegue fazer, mesmo com uma "sobrevivência light", é criar condições para que cada travessia e cada ação tenha algum tipo de custo. Apenas o suficiente para que você pense o seu próximo passo.

Sony/Divulgação

Aqui vai um exemplo: estava caçando lobos (sim, animais também dão recursos para montar itens). Após matá-los, Freakers vieram em minha direção. Comecei a combatê-los, e percebi que eles vinham de um acampamento dominado. Decidi limpar a área e, depois de terminar, retornei a minha moto. Ao chegar lá, vi que outros Freakers estavam comendo a carne dos lobos que esqueci de coletar.

História

Como falamos acima, o teste foi montado de forma picotada, com um salto entre os dois momentos de gameplay. Sendo assim, não tivemos acesso ao início do jogo completo, mas tivemos uma noção de quais serão os temas que guiam a narrativa.

Deacon é um personagem totalmente assombrado por seu passado, marcado pela tragédia envolvendo sua esposa, Sarah, durante a infestação dos Freakers - este evento, que move boa parte da trama, é cercado de mistérios por si só.

Sony/Divulgação

De qualquer modo, temos um protagonista movido pela culpa, e boa parte de suas ações constroem uma narrativa na qual ele quer deixar o que aconteceu para trás. Em diversos momentos, Deacon é relutante e nervoso, especialmente quando está perto dos Freakers.

Neste ponto, Days Gone vai seguir fiel à cartilha de jogos exclusivos da Sony, tentando dar um peso emocional à história de Deacon, Boozer e deste mundo desolado. A ideia, mais uma vez, é trazer os dramas do personagem de uma forma mais humana, com a qual o jogador consiga se identificar.

A diferença aqui é que existe uma estrutura de jogo mais robusta em torno dessa narrativa, que mistura muita coisa já vista em outros títulos de mundo aberto.

Days Gone pode não ser o mais esperado dos jogos exclusivos do PlayStation 4 que ainda não foram lançados, mas também deve encontrar um público. Acredito que sua situação é bem similar com a do primeiro inFamous, que chegou no PS3 em 2019: é um jogo que não fez muito barulho antes nem durante seu período de lançamento, mas construiu uma base fiel de fãs ao longo do tempo, de modo a se tornar uma franquia consolidada.

Dublado em português, Days Gone chega em 26 de abril para PlayStation 4.