Nintendo   Xbox   Pc   Playstation

Review: Wolfenstein: Youngblood

Destruindo os nazistas em dupla, o novo episódio da franquia traz muito conteúdo bem aproveitado

Por Breno Deolindo 30.07.2019 16H00

Com bastante sangue, violência e nazistas dilacerados, Wolfenstein: Youngblood funciona como uma breve sequência de Wolfenstein II e prepara o terreno para uma sequência, apresentando novas e carismáticas personagens.

Na cutscene inicial, somos apresentadas a Jes e Soph, filhas gêmeas de B.J. Blazkowicz, herói tradicional da franquia e, claro, o homem que ficou conhecido por ter matado Adolf Hitler.

Com medo da retaliação nazista, o pai e sua esposa, Anya Oliwa, iniciam treinamentos de nível militar para que as filhas estejam preparadas para a batalha. Dando um salto para o futuro próximo, B.J. está desaparecido após ter partido em missão, gerando preocupação de sua esposa e das filhas, que decidem encontrar o pai com a ajuda de Abby, filha de Grace Walker.

Gênia da tecnologia, Abby presenteia as irmãs com uma armadura que potencializa as habilidades das garotas, dando a elas maior resistência e até mesmo um pulo duplo. Então, o game realmente começa.

O jogador precisa escolher comandar Jes ou Soph durante sua aventura; cada uma possui armas específicas no início do game, mas ambas podem adquirir todas habilidades e equipamentos disponíveis no decorrer da jogatina. Uma árvore de habilidades bastante simples, dividida em Mente, Músculo e Poder pode ser totalmente explorada tanto por Jes quanto por Soph.

A única diferença prática entre as duas é a sua personalidade: enquanto Soph é mais séria e agressiva, Jes prefere ser mais imaginativa e brincalhona. O carisma de ambas é bem demonstrado nas cutscenes, que apesar de serem poucas, são sempre bem-vindas quando aparecem.

Uma Paris tomada pelos nazistas

Todo o jogo se passa em uma versão alternativa de Paris, onde os nazistas dominaram a cidade e a transformaram em uma grande base de operações, com direito a uma Torre Eiffel diferentona. Infelizmente, os ambientes são bastante limitados, e o jogador pode passar pelo mesmo local várias vezes ao fazer diferentes missões.

Isso é compensado com um design bastante interessante das fases. Todos elas são muito abertas a exploração: com o pulo duplo, locais que pareciam inacessíveis tornam-se uma posição estratégica contra inimigos, ou até mesmo revelam novas salas com colecionáveis e equipamentos.

Ao avançar no game, o jogador desbloqueia novas armas, que também podem ser utilizadas para abrir portas antes inacessíveis e liberar alguns atalhos.

Ainda falando do desenho dos cenários, é bem perceptível o quanto eles fogem da “arena” tradicional de um shooter. Claro, os locais para se esconder e atirar quando for propício estão lá, mas de uma maneira muito mais diversa do que em outros shooters, como Rage 2 e The Division 2.

Destruição prazerosa, mas que não convence tanto

Com mecânicas bastante simples e coesas, é fácil se acostumar com o gameplay de Youngblood. À sua disposição no arsenal, o jogador possui um rifle de assalto, uma escopeta, uma sub-metralhadora e duas opções de pistola. Cada uma delas possui acessórios, como miras mais precisas e pentes estendidos, a serem equipados e melhorados.

Além da trocação franca de tiros, existem algumas outras opções para derrotar seus inimigos. Uma habilidade para ficar invisível, combinada com abates instantâneos e silenciosos, dá um elemento de stealth ao game. Há ainda acessórios que podem ser lançados, como poderosos machados e granadas explosivas.

Na prática, o combate é bastante dinâmico e raramente fica confuso em meio às dezenas de inimigos que vão surgindo; é fácil encontrar e definir um alvo para abater, não é necessário apenas sair atirando sem qualquer distinção.

Ainda assim, falta uma sensação que os games da id Software, como DOOM e Rage, possuem de sobra. Diferente desses títulos, os headshots de Youngblood são mais difíceis de serem “sentidos”. Apesar de mostrar graficamente as dilacerações, o game não convence tanto quando quer mostrar que o jogador está destruindo os adversários - às vezes, há até uma sensação de se estar errando todos os disparos.

Em compensação, o jogo se aproveita muito bem das ferramentas que fornece ao jogador. No início da minha jogatina, eu simplesmente saía correndo para cima dos inimigos com minha shotgun na mão, e estava tudo bem. Conforme as missões foram ficando mais difíceis, era necessário pensar o combate e utilizar mais da variedade de acessórios.

A metralhadora pode não ser tão forte, mas é mais eficaz contra o escudo de alguns inimigos; as granadas são excelentes para dar dano em área; os abates silenciosos são perfeitos para tirar um inimigo poderoso de combate sem precisar de muito esforço. Combinar essas possibilidades é o que realmente faz as batalhas serem mais tranquilas e prazerosas.

A mecânica de duplas

As gêmeas Jes e Soph partem juntas em combate, portanto, todas as batalhas de Wolfenstein: Youngblood são em dupla. O objetivo primário do game é que você jogue online com algum amigo ou até mesmo com um desconhecido, mas também é possível deixar uma das gêmeas nas mãos da inteligência artificial e jogar sozinho.

Inclusive, vale mencionar que a versão Deluxe do jogo permite convidar amigos que não tenham comprado o game para jogar com você. Basta baixar a edição Trial e eles poderão jogar todas as fases em conjunto com o dono do game.

Curiosamente, as vidas também são em dupla. O game introduz a mecânica de vidas compartilhadas: quando Jes ou Soph são abatidas e a outra irmã não consegue reanimá-la, perde-se uma vida compartilhada. Quando elas acabam, a morte de qualquer uma das personagens é um game over instantâneo, que te leva para o último checkpoint - inclusive, ele pode ser bem distante do local de game over.

A sessão aberta de jogo é levemente problemática, principalmente se seu companheiro desconhecido não gosta de se comunicar. Definir objetivos, estratégias de luta e até mesmo executar ações como abrir uma porta são coisas simples que se complicam nesse caso. Com amigos, a dinâmica é bem mais tranquila.

O matchmaking poderia ser melhor aproveitado se fosse similar ao de The Division 2: o jogador aponta qual a missão que quer fazer e é automaticamente colocado em uma sala com vários companheiros que possuem o mesmo objetivo. Isso não funcionaria para todas as quests, pois algumas não são lineares, mas poderia ajudar bastante nas missões principais do game.

Jogando com a inteligência artificial, minha experiência foi majoritariamente positiva. A outra gêmea costuma ficar sempre próxima de você, ou seja, caso uma das duas seja abatida, a reanimação é ágil. O mesmo vale para abrir portas e baús em dupla; sua irmã responde rapidamente e não se perde muito tempo nesse processo.

Ainda assim, enfrentei alguns problemas graves com a inteligência artificial: em mais de um caso, minha irmã simplesmente não me reviveu. Por vezes, isso acontecia quando estávamos distantes, e ela não se movia em minha direção; em outras, a IA bugava e não reanimava minha personagem mesmo que eu estivesse encostado nela. Em um game que pode ser bastante punitivo - por vezes, perdi vinte a trinta minutos de progresso por conta do game over -, esse erro é inaceitável.

Outro problema, esse mais específico, aconteceu na última missão do jogo. Era necessário acertar um adversário pelas costas para infringir dano, algo que não deveria ser difícil quando há duas personagens enfrentando-o.

Entretanto, quando o inimigo dava as costas para minha gêmea, ela preferia se juntar a mim do que atirar. O mesmo acontecia quando a situação era inversa, se o chefão se virava para minha irmã, ela rapidamente se juntava a mim, e o adversário ficava de frente para nós duas.

Bastante conteúdo

Com uma campanha relativamente curta, que beira as dez horas de duração, Youngblood traz bastante conteúdo extra para o jogador. Como os próprios produtores já afirmaram, é um game que possui entre 25 e 35 horas no total.

Side quests para ajudar a desmantelar as forças nazistas não faltam no game, e todas podem ser facilmente ativadas pelo menu principal. Há ainda tarefas diárias e semanais dadas por Abby, que possuem um caráter mais desafiador e fornecem uma grande quantidade de dinheiro.

Os colecionáveis são bem discretos, e podem passar batido tranquilamente. Óculos 3D que mostram modelos in-game, fitas cassete e uma série de textos a serem lidos estão entre os itens que aprofundam a lore do game.

Por fim, os jogadores ainda podem se divertir com um shooter totalmente retrô, encontrados em máquinas de arcade. Nomeado Elite Hans, o game inverte os conceitos de Wolfenstein: o jogador controla o próprio Hans, que precisa combater o temível Terror Billy, também conhecido como B.J. Blazkowicz.

Contendo uma história bastante sólida para um shooter. Wolfenstein: Youngblood pode não oferecer o melhor combate de sua geração, mas aproveita bem todo o conteúdo que coloca à disposição do jogador. Infelizmente, o jogo sofre com bugs gravíssimos, e precisa rever o funcionamento de sua Inteligência Artificial o mais rápido possível.

Nota do crítico