Review: Samurai Shodown

Um verdadeiro xadrez de samurais; fácil de aprender e difícil de dominar

Por Jessica Pinheiro 06.07.2019 13H30

Assim como qualquer outro gênero, os jogos de luta também possuem sua própria fórmula. Do básico “hadouken” a outros comandos típicos de games desse tipo, bem como modos de jogatina que vão do treino ao online; e um rol diversificado de bonecos com variados estilos, personalidades e técnicas para agradar a todos os jogadores.

Estes são apenas alguns dos aspectos básicos que compõem os jogos de luta e, felizmente, estamos vivenciando uma boa safra de títulos do gênero que procuram sempre se diferenciar de alguma forma, com mecânicas e estéticas que fogem dos padrões, seja esta diferenciação voltada para os esports ou para jogatinas mais casuais.

Explicando melhor: Dragon Ball FighterZ possui uma rapidez e ferocidade incomuns que certamente agrada todos os tipos de jogadores e, em termos de partidas competitivas, conta com uma mecânica que pode fazer tudo mudar: as Esferas do Dragão.

ARMS tem uma visão em terceira pessoa por cima da cabeça dos lutadores e os braços dos bonecos, como o nome do jogo bem sugere, são as fontes de suas principais habilidades usadas em combate. Diferente e divertido na medida certa.

SoulCalibur VI tem, dentre tantas novas mecânicas de combate, o Reversal Edge com seu confuso, porém acurado sistema de pedra-papel-tesoura; e Tekken 7 possui a dinâmica de slowdown que, por sua vez, acrescenta momentos icônicos às partidas, seja para quem joga ou apenas assiste. Todas essas características tornam esses jogos de luta singulares dentro do gênero, apesar de não serem os únicos aspectos que os tornam tão diferenciados.

E Samurai Shodown - ou Samurai Spirits se você gostar de chamar os games pelos nomes originais -; segue bem essa cartilha: mantém todas as características citadas no início deste texto que fazem parte da fórmula dos jogos de luta, mas traz, mais do que nunca o aspecto de estratégia para o ringue. Tá seguindo a ideia até aqui? Então vem comigo.

No ritmo do Samurai

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Antes de mais nada, vale apontar dois aspectos que você provavelmente notará assim que colocar as mãos em Samurai Shodown também: este game é bem mais lento do que o comum. Se você está acostumado com jogos de luta mais frenéticos, certamente vai estranhar o ritmo deste título no início. Não é nada absurdo, você logo vai se acostumar.  

Além disso, em Samurai Shodown seu principal meio de ferir o oponente é sua arma laminada, seja esta uma katana, um florete ou um montante. Dito isto, lembre-se que, você não vai focar seus esforços em emendar combos como boa parte dos jogos de porradaria que estamos acostumados; mas sim, em abrir ou se aproveitar de brechas, mais do que nunca.

Isto porque as lutas em Samurai Shodown são como duelos de espadas de verdade, então é essencial entender o que você está fazendo. Não adianta apertar descontroladamente os botões do joystick. Quer dizer... você até pode ganhar a partida desta forma, sim; mas certamente irá sentir como se algo estivesse faltando em toda a dinâmica da batalha.

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Eu recomendo, portanto, que você dê uma chance aos Tutoriais do game, especialmente se nunca tiver jogado um Samurai Shodown antes. Eles ensinam bem desde os comandos mais básicos até como executar os golpes especiais, além de dar dicas entre uma lição e outra, que você vai acabar se lembrando em algum momento.

Os comandos são quase os mesmos para todos os bonecos, mesmo; com uma ou outra alteração quando eles estão desarmados e, com diferenciações caso o lutador tenha um animal companheiro. Todos os personagens têm, portanto, a mesma base de jogabilidade, e é aqui que Samurai Shodown se destaca: na maneira como você executa esses golpes, e principalmente quando.

O caminho da espada

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Aqui, você vai essencialmente usar golpes com a espada do seu boneco. São quatro botões apenas para administrar: ataque fraco, médio, forte e chute. A partir disso, você pode combinar com os direcionais e apertar alguns deles juntos ou não; para liberar os ataques especiais.

As técnicas que mais dizem respeito do que se trata Samurai Shodown, no entanto, são: a Esquiva (ataque fraco e médio juntos), que é ótima para evitar golpes previsíveis e muito próximos e alguns projéteis; Defesa (segurar para trás) e Defesa Precisa (apertar para trás no momento exato do golpe do inimigo).

Há ainda Contra-Ataque (hadouken + fraco e médio juntos no momento exato do golpe do inimigo) para desarmá-lo; e a Quebra de Postura que, como o nome sugere, quebra a defesa do inimigo e você pode se aproveitar dessa pequena janela de tempo para desferir o que quiser (depois de defender, dê um hadouken + botões médio e forte juntos).

Outra dica legal é usar a Quebra de Defesa (forte + chute juntos ou, segure para trás e aperte forte + chute juntos), e a Técnica de Desarmamento (hadouken + médio e forte juntos após uma Explosão de Fúria), que também são boas habilidades para se usar sempre que possível.

Além disso, os golpes secretos só podem ser usados uma vez por luta (Explosão de Fúria, Lâmina-Relâmpago, Movimento Super Especial e Duelo de Lâminas), tornando tudo ainda mais estratégico. É o clássico: fácil de aprender, difícil de dominar e, uma vez que você entender a dinâmica de Samurai Shodown, vai se sentir encarnando um verdadeiro samurai de tão disciplinado e calculista.

Mais do que isso, todo esse conhecimento citado acima (e mais algumas técnicas aqui e ali, que se aplicam a personagens específicos) possui praticamente a mesma base em questão de jogabilidade, o que significa que você pode executar quase sempre as mesmas sequências de botões para liberar esses golpes. Mas, me repetindo: a diferença está em como e quando você aplica essas técnicas. 

O conjunto da obra

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O ritmo mais cadenciado do jogo em conjunto com os padrões de golpes, faz com que você se sinta jogando mais um xadrez temático de samurais do que um game de luta propriamente dito. É importante aprender os comandos dos seus bonecos e estudar os outros lutadores também para se ter uma noção dos tipos de técnicas que ele pode aplicar contra você. 

Além disso, como já comentado, as habilidades secretas só podem ser usadas uma vez por luta, aumentando ainda mais o aspecto tático do game. Tudo se alinha bem com os riscos que o jogador corre sempre que executa um novo comando, e as recompensas podem se tornar maiores se você souber o que está fazendo e o que está acontecendo.

Por fim, depois de exaltar tanto a refinada e incisiva jogabilidade deste game, vale apontar que o game está bastante agradável aos olhos, trazendo uma estética animada de cel shading mas com leves toques de rachura. A trilha sonora está excelente, cheia de instrumentos típicos do Japão e que, portanto, entrega canções de fundo apropriadas e animadas.

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Existe também um modo online, mas ele ainda está em fase de ajustes mesmo algum tempo pós-lançamento, e com frequentes ausências (confirmadas) de jogadores. Além disso, quando acontecem batalhas, os servidores parecem não comportar muito bem a latência, causando algum estresse dependendo da capacidade da sua internet. 

Por fim, o modo história não é dos melhores. Apesar das belas animações estáticas que servem como cutscenes para ilustrar a narrativa, não existe de fato nada muito empolgante nesse modo de jogo. A batalha final apresenta algum desafio, sim; mas não é nada fora dos padrões de chefes finais de games de luta. Vale mais reunir os amigos no sofá ou em uma party online e duelar contra eles. A diversão é garantida, bem como o deleite com a jogabilidade.

E que venham mais games como Samurai Shodown, com ousadia para renovar mecânicas de estratégia dentro do gênero de lutinhas, mas sem sair da fórmula já conhecida pela comunidade, entregando uma jogabilidade coerente com sua proposta e que dá gosto de aprender, assistir e de experimentar. Recomendado para jogadores de primeira viagem e principalmente para os mais experientes com o gênero.

Nota do crítico