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Review: FIFA 20

Com um novo modo que não é FIFA Street, o game parece solucionar problemas de seu antecessor

Por Breno Deolindo 24.09.2019 16H34

Com Eden Hazard estampado em sua capa e o modo Volta chamando a atenção em todos os cantos do game, FIFA 20 chega com expectativas de um sucessor espiritual do FIFA Street, e tentando se recuperar de um 2019 bastante complicado.

Por mais que, à época de seu lançamento, FIFA 19 tenha sido aceito pela crítica e pelos fãs, o título não envelheceu bem: problemas de gameplay que chegaram a afetar até mesmo o cenário competitivo fizeram a comunidade perder a paciência em vários momentos.

A nova edição do jogo anual tenta fechar essa ferida de vez, e por enquanto não apresenta grandes entraves.

Adeus, bicicletas no meio de campo

Assim como mencionei no meu review de eFootball PES 2020, é bem complicado analisar com profundidade a jogabilidade de um game de futebol. Para se aprender todas as nuances e defeitos, são necessários meses de gameplay de toda a comunidade e não apenas as dez horas garantidas pelo EA Access - que foram utilizadas para escrever essa crítica.

Isso nos leva ao segundo fator, que é a evolução do jogo com novas atualizações. Novamente, FIFA 19 era um game aceitável quando foi lançado, e demorou um tempo para que todas as críticas começassem a surgir - muitas delas vieram após correções para detalhes do gameplay que geravam outros impasses.

De qualquer forma, FIFA 20 parece um sucessor sólido. Não tive o desprazer de vivenciar uma bicicleta no meio de campo caindo perfeitamente no pé do atacante, um dos problemas imediatos de FIFA 19. As finalizações também parecem mais realistas, e o Chute Colocado não é mais tão apelão.

No resto, jogadores mais casuais não sentirão tanta diferença assim. Uma ou outra antecipação inesperada de seu zagueiro pode acontecer, mas nada que vá estragar ou melhorar muito a experiência.

Não, não é FIFA Street

Pessoalmente, fiquei bastante animado com a revelação do Volta. O trailer lembrava muito os elementos do reboot de FIFA Street, lançado em 2012. Nessa época, eu defendia ferrenhamente o game, que não obteve tanto sucesso em seu lançamento mas trazia uma mistura bastante interessante dos dribles absurdos com o futebol tradicional.

Infelizmente, a ressureição desse game por meio do Volta ficou apenas nas aparências. Os dribles não são tão fáceis quanto eram na época do PlayStation 2; na verdade, eles são realizados da mesma maneira que é feita no futebol de campo, combinando movimentos do analógico direito com alguns botões.

Até aí, não há tantos problemas - o uso do analógico ajudaria a aumentar o skill gap, deixando os jogos mais justos para jogadores dedicados a aprender cada habillidade. O grande porém está na maneira que os dribles são usados: eles não são tão eficazes quanto se esperaria de um game que relê FIFA Street. Na verdade, senti maior facilidade no Volta ao tocar a bola rapidamente e finalizar sempre que houvesse abertura.

No futebol de campo, fala-se muito na dualidade entre eficácia e jogar bonito. Quem não lembra dessa narrativa na Copa de 2010, em que a burocracia holandesa foi superada pela plasticidade da Espanha na grande final? No FIFA Street, o brilho era justamente os belos dribles e jogadas absurdas; no Volta, a jogabilidade é tão opaca e cinzenta quanto no campo.

Claro, isso é disfarçado de maneiras competentes: animações de passe com o calcanhar e eventuais voleios aparecem vez ou outra durante os jogos. A identidade visual também é trabalhada com uma aura chamativa, com cores berrantes e artes agressivas.

Apesar de toda a problemática, as partidas do Volta estão longe de serem chatas. Por serem muito mais ágeis e trazerem cenários variados, elas soam muito mais leves do que o futebol tradicional. Ainda assim, o novo modo de jogo soa mais como uma embalagem muito bonita para um presente que não é tão legal.

Sai Alex Hunter, entra Revvy

Além de ser, entre muitas aspas, o sucessor espiritual do FIFA Street, o Volta também substitui o The Journey, o “modo história” que existia nos três últimos jogos da franquia.

Ao invés de Alex Hunter, o jogador pode criar seu próprio personagem nessa releitura, e independente do nome que ele escolha para aparecer na tela, os NPCs o chamarão de Revvy durante as cutscenes.

Com um enredo bem fraco, onde seu personagem precisa manter o time unido após o astro Jayzinho se lesionar, a história do Volta não empolga e funciona mais como uma introdução ao modo de jogo. Isso acontece por meio de treinamentos, que trazem os exercícios que já existiam no FIFA para o cenário das ruas.

A cada partida e treino realizado, o seu personagem vai ganhando pontos em seus atributos para subir seu overall. Em paralelo a isso, você também recebe Pontos de Habilidade, que podem ser usados para desbloquear skills específicas, como voleios ou mais capacidade com dribles.

Diferente do The Journey, derrotas não influenciam tanto no seu progresso do Volta. O game se baseia em pequenos campeonatos pelo mundo; participar em cada um deles vai aumentando o prestígio e a qualidade de sua equipe.

Caso seu time perca em em algum dos campeonatos, o game te obriga a recomeçar o torneio até conquistar a vitória. Depois da final, há ainda um desafio contra o time de alguma das lendas do futebol de rua; infelizmente, vencê-lo não significa que você pode recrutá-lo para sua equipe, como acontecia nos antigos FIFA Street.

O grande problema da história está nos times adversários: aparentemente, o game se baseia em elencos criados por outros jogadores para definir seus oponentes, e isso resulta em um festival de times com nome, logotipo e jogadores idênticos. Syd, uma das personagens que faz parte da história, aparece nos dois times em praticamente todos os jogos. Também é comum que os duelos sejam J10 contra J10, o nome padrão para a equipe.

Infelizmente, as dez horas de EA Access não foram suficientes para finalizar o enredo. Fica a curiosidade se há alguma integração com o Ultimate Team, como acontecia em The Journey, onde o jogador recebia cartas de Alex Hunter e Danny Williams para ajudar sua equipe.

FUT: Fortnite Ultimate Team

Com poucas novidades em seu funcionamento, Ultimate Team segue sendo o foco de conteúdo em FIFA 20. Milhares de cartas e possibilidades para seu elenco estão contidas dentro do FUT, que também é a base para o cenário competitivo do game.

A mecânica mais inovadora adicionada nesta edição está nos Objetivos da Temporada. O formato é praticamente idêntico ao Battle Pass já consagrado em Fortnite, onde cumprir objetivos e acumular experiência libera benefícios para o jogador.

Os Objetivos não são novidade no Ultimate Team; já existia uma mecânica de recompensas similar, mas que era facilmente ignorada pelos jogadores - focar em premiações de Squad Battles e da Weekend League valia mais a pena.

Com a repaginação, a mecânica parece dar objetivos mais relevantes, como pacotes e jogadores de qualidade por empréstimo. O primeiro nível do Passe, por exemplo, permite que você escolha Van Dijk, Vincius Júnior ou Modrić para integrar seu elenco durante cinco partidas.

Outro bônus que está presente nos Objetivos é o impulso de moedas, que aumenta temporariamente a sua recompensa por jogar partidas. Esse recurso também já existia nas outras edições de FIFA, e podia ser comprado facilmente pelo menu inicial. Agora, ele só existe no Battle Pass, tirando um pouco da vantagem que os jogadores tinham no início do Ultimate Team.

Apesar do nítido esforço da EA em inovar, é bem difícil que jogadores mais dedicados se afastem dos modos mais tradicionais para garantir recompensas. Desbloquear novos níveis no Passe de Batalha pode se tornar apenas uma consequência de jogar Ultimate Team, e não o foco dos usuários.

Também vale a pena falar dos novos menus do FUT, que interferem bastante na experiência de gerenciamento de elenco. Com um menu circular, é mais fácil realizar ações em jogadores específicos: aplicar consumíveis, venda rápida e outros recursos são acessados com tranquilidade.

A repaginação do menu de Clube, entretanto, não ficou tão boa. É muito fácil substituir jogadores acidentalmente por conta do novo esquema de menus: ao trocar da aba de Elenco Ativo para a aba de Clube, o game seleciona o jogador que estava marcado por seu cursor, mesmo que você não tenha apertado nenhum botão. Caso você clique em uma carta do clube depois disso, acontecerá uma troca que pode ser indesejada.

Isso tudo acontece em menus que pareceram bem lentos no PlayStation 4 de base. Tanto no Ultimate Team quanto em outros modos de jogo, a movimentação do cursor transmite uma sensação bastante travada.

Por fim, vale comentar sobre os Amistosos que podem ser jogados com seu elenco do FUT. Além da partida tradicional, o jogador pode participar de modos como Bola Misteriosa, onde a bola melhora atributos aleatórios do time que está com sua posse. Esses jogos não consomem contratos ou condicionamento físico dos jogadores, mas ainda fornecem moedas como premiação e dão um alívio casual para um modo tão focado no competitivo.

O Ultimate Team segue sendo o principal centro de competitividade em FIFA 20, e mantém a receita do sucesso com loot boxes e os famigerados FIFA Points, moedas in-game que podem ser compradas com dinheiro da vida real.

A Carreira de um técnico que não vê o campo

Talvez um dos modos mais revitalizados em FIFA 20, o Carreira tem como grande atrativo o modo Técnico, onde você pode comandar um clube por completo: elencos, orçamento e transações estão entre suas responsabilidades.

Para esse ano, uma das implementações foi a moral dos jogadores e do time como um todo: os atletas podem se sentir infelizes ou satisfeitos com sua função na equipe, e isso influencia em sua performance.

A moral pode ser manejada de várias maneiras: simplesmente escalar um jogador pode deixá-lo feliz, mas há mecânicas mais complexas em torno disso.

Entrevistas coletivas antes e depois das partidas podem melhorar a moral de um atleta dependendo das respostas que você escolher; eventualmente, alguns de seus comandados podem te mandar mensagem de texto pedindo para ter mais chances em campo, e as respostas escolhidas influenciam em sua moral.

As negociações também receberam novidades, com mais ambientes possíveis para se conversar com um novo jogador ou com o manager de outra equipe. Isso diminui a repetitividade de conversas que não variam tanto, dando um ar mais fresco e interessante ao Carreira.

Apesar de ser bastante completa, a carreira de técnico ainda possui um problema nítido, e que pode ser resolvido com lições de eFootball PES 2020. FIFA 20 é bastante profundo nas possibilidades do que se fazer com o elenco, dar instruções ao jogador e opções táticas. Entretanto, é difícil aplicar tantos conceitos sem saber o que acontece em campo.

Simular partidas não mostra nada do jogo de fato, resumindo apenas os gols, substituições, cartões e lesões. Aprofundar-se em quais foram os melhores jogadores, os principais erros cometidos pelo time e áreas a serem aprimoradas é praticamente impossível, algo que poderia ser resolvido com alguns elementos presentes na Liga Master.

A concorrência oferece tanto um Modo Técnico de se assistir às partidas, onde é possível ver a simulação acontecendo em tempo real, quanto uma aba apenas de estatísticas para o clube e jogadores.

Caso esse recurso estivesse presente, o Carreira seria praticamente irretocável - talvez uma variação maior de diálogos ou critérios mais claros para transações fossem pontos a melhorar, mas nenhum desses itens prejudica a experiência.

Como qualquer jogo com tanto conteúdo, FIFA 20 apresenta uma série de problemas pequenos e que vão minando aos poucos a jogatina. Uma repaginação nos adversários do Volta é urgentíssima, e uma otimização dos menus também seria muito bem-vinda.

No fim das contas, o que realmente definirá FIFA 20 como um game bem visto por sua comunidade será o gameplay. Caso o jogo consiga se afastar dos problemas progressivos de seu antecessor, ele parece um título bastante sólido e uma resposta à altura da concorrência, que também veio forte para este ano.

Nota do crítico