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Review: Battlefield 2042 é ponto mais baixo da série em anos

Problemas técnicos e foco em tamanho em vez de qualidade rebaixam shooter da DICE

Por Pedro Henrique Lutti Lippe 11.01.2022 16H30

Em 2011, eu me lembro de ficar profundamente decepcionado com Battlefield 3. O jogo era abertamente derivativo do que a Activision estava fazendo com Call of Duty na época, e parecia mais focado na escala do que na qualidade dos mapas. Ele não permitia que os jogadores fossem tão criativos quanto nos títulos originais da série, mas também não era preciso como o engenhoso Bad Company 2.

Mesmo assim, Battlefield 3 segue sendo o melhor jogo da série na última década.

Depois de tantos tropeços, Battlefield 2042 tinha tudo para ser o ponto de virada que marcasse o momento em que a DICE aprendeu com seus erros e finalmente conseguiu recapturar a magia da série. Em vez disso, ele é um dos pontos mais baixos de uma franquia antes respeitada, mas que agora cambaleia sem propósito, imune ao esquecimento apenas por conta do legado do qual ela mesma parece não se lembrar.

Battlefield 2042 é o jogo mais personalizável da série, com as maiores batalhas. Em contrapartida, ele tem mapas esparsos e desinteressantes, tiroteios pouco satisfatórios e uma enorme variedade de bugs e problemas técnicos que atrapalham seus raros momentos de brilhantismo.

Divulgação/Electronic Arts

Com o intuito de focar nas partes mais importantes da experiência Battlefield, a DICE despiu-se de todos os apetrechos vistos como desnecessários para o lançamento de 2042. O título não tem uma campanha, e muitos dos modos menos populares de capítulos anteriores também foram descartados.

O prato principal do novo jogo é a dupla Conquest e Breakthrough, que nos consoles da atual geração e no PC colocam dois times de 64 jogadores frente a frente na busca por objetivos no mapa. É o arroz com feijão de Battlefield, que pode proporcionar empolgantes cabos de guerra metafóricos entre duas equipes engajadas com seus objetivos, ou então muita frustração para jogadores azarados que são obrigados a contar com aliados que sequer olham para os pontos no mapa.

Battlefield 2042 também tenta recapturar um pouco dos dias dourados da franquia com o modo Portal, que traz de volta conteúdo e mapas dos clássicos 1942, Bad Company 2 e Battlefield 3 para o novo formato da série. Similar ao modo Criativo do Fortnite, o Portal depende do engajamento da comunidade na criação de experiências personalizadas - o que faz com que a qualidade das atividades oscile drasticamente.

Por fim, há o inédito Hazard Zone - uma espécie de modo de sobrevivência que se assemelha bastante à estrutura de Hunt: Showdown, com times de quatro jogadores adentrando uma zona de perigo em busca de objetivos específicos. Após cumpri-los, eles ainda precisam deixar o território em segurança. Curiosamente, em um jogo que preza tanto pela escala de seus conflitos, é justamente o caráter intimista do esquadrão de quatro pessoas o que rende os momentos mais divertidos.

Divulgação/Electronic Arts

No papel, Battlefield 2042 tem tudo para corrigir todos os tropeços de Battlefield V: um escopo reduzido e foco no que realmente importa, além de uma experiência inédita (na forma do Hazard Zone) e de importantes toques de nostalgia através do Portal. Mas até mesmo os melhores planos do mundo podem ser estragados por uma execução que não está à altura.

Dois meses e vários patches de correção após seu lançamento original em novembro, Battlefield 2042 ainda encontra maneiras de me surpreender com novos problemas técnicos. São veículos que atravessam a geometria do cenário, construções inteiras que desaparecem, aliados marcados na interface como inimigos, controles travados, efeitos sonoros estourados, armas que não disparam, e por aí vai. Tanto no PS5 quanto no PC, é comum precisar sair e entrar de novo em uma partida em curso para que o jogo volte a funcionar conforme o esperado.

E mesmo quando bugs não ficam no caminho da diversão, escolhas de design feitas pela DICE o fazem. Desde o lançamento, por exemplo, os rifles têm padrões de disparo assustadoramente difíceis de prever, fazendo com que seu uso seja muito frustrante. Um outro exemplo: para comportar 128 jogadores simultâneos, os mapas são grandes demais, com enormes trechos vazios por todos os lados e longas e tediosas caminhadas entre um ponto de objetivo e o próximo.

Divulgação/Electronic Arts

Conforme sinalizado pelo adiamento do lançamento original do jogo apenas um mês antes de sua data planejada originalmente, Battlefield 2042 parece ter sido ‘completado’ às pressas, sem o tempo necessário para que os desenvolvedores conseguissem criar uma experiência coesa e impermeável.

A essência caótica das disputas da série ainda estão presentes em Battlefield 2042, mas escondidas atrás de muitas camadas de obstáculos. Pegue os violentos tornados que surgem no meio das partidas como exemplo: eles inevitavelmente criam situações inusitadas e divertidas nos combates… a menos que você descubra que está preso dentro do veículo que estava pilotando antes de ser erguido do chão pelo vento, condenado a morrer sem recurso em uma explosão por conta de um bug.

Outra ideia interessante que o jogo propõe, mas não executa com perfeição é a dos Especialistas - personagens com nomes e habilidades próprias que substituem as classes dos Battlefield anteriores (como os médicos e engenheiros).

O novo sistema dá mais flexibilidade para que os usuários encontrem os melhores equipamentos para seus respectivos estilos de jogo, já que todos os Especialistas têm acesso a todas as armas e a maneiras básicas de desempenhar funções como restauração de vida, reparo de veículos e reabastecimento de munição. Na prática, porém, isso significa que é muito difícil coordenar as ações de times que não estejam conversando diretamente via chat por voz, já que o nível a mais de liberdade torna difícil saber as capacidades de cada jogador em meio ao caos de uma batalha.

Divulgação/Electronic Arts

Exatamente como foi com Battlefield 1 e Battlefield V, Battlefield 2042 agora faz uma corrida de recuperação: os desenvolvedores precisam encontrar uma maneira de consertar problemas antes de pensar em expandir a experiência de maneiras inovadoras.

A DICE parece estar presa em um ciclo vicioso com Battlefield, mais preocupada com prazos de lançamento e novidades que parecem legais nos trailers do que com a entrega de um jogo à altura do que o nome Battlefield representa. Pelo menos em Battlefield 2042, através do modo Portal, é possível revisitar os jogos antigos, dos tempos em que a série realmente merecia o destaque que tinha.

Nota do crítico