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Life is Strange: True Colors é indispensável para fãs da série

Alex Chen talvez seja a melhor protagonista da franquia

Por Diego Lima 09.09.2021 15H52

Super empatia. Não existe poder mais adequado para Life is Strange. Essa mistura entre telepatia e uma sensibilidade fora do comum para entender as pessoas fizeram com que Alex Chen, a protagonista de True Colors, passasse a vida inteira sentindo o que outras pessoas sentiam, colocando a si mesma sempre em segundo lugar.

Quando os sentimentos de todos os outros se tornam os nossos, é difícil saber quem somos. Ao mesmo tempo, quando entendemos a perspectiva do próximo na essência, tendemos a nos tornar muito mais compassivos e humanos na maneira de lidar com cada indivíduo.

Alex... Sem palavras.

Encantador. Basta passar alguns segundo em Haven Springs para que você sinta algo semelhante ao que sentiu quando visitou Arcadia Bay pela primeira vez. A estética tradicional de Life is Strange segue intacta, embora a qualidade das texturas e dos modelos de personagem tenham melhorado.

Aquela mesma simplicidade amigável se faz presente na pequena cidade montanhosa de True Colors. Um lugar pacífico e comum cuja beleza está no encontro entre a natureza e o mundo moderno. O lar de personagens dos quais você não esquecerá, sejam eles mais ou menos relevantes para a história.

Com o poder de Alex Chen, jogadores têm a chance de entender até mesmo o mais aleatório dos NPCs. Basta pressionar um botão para que a aura das pessoas se torne visível — e, se o sentimento for forte o bastante, Alex conseguirá ler brevemente a mente de quem está perto dela, além de sentir o que estiverem sentindo.

A vontade de visitar Haven Springs é enorme.

Quando a dor ou a alegria são fortes demais, é possível expandir os sentimentos dos outros personagens e até mesmo ver as memórias que eles têm em lugares específicos ou com certos objetos. Assim, teremos as melhores opções de diálogo para lidar com cada um deles. Nos casos em que você se importa, isso ajuda muito. Na verdade, talvez todas as pessoas importem quando você sente o que elas sentem. Afinal, não consegui deixar um NPC sequer sem ajuda.

O casal de jovens apaixonados inseguros a respeito de como o outro reagirá caso a verdade venha à tona. Um ansioso dono de restaurante que não sabe se as pessoas vão ser educadas com ele sempre. Uma menina que quer ouvir uma música específica no bar em que Alex trabalha (e mora). Um homem careca que está completamente transtornado de raiva e tenta se manter calmo.

Haven Springs tem todo tipo de gente, seja para o melhor ou para o pior. Como você já deve saber, o jogo começa com a chegada de Alex Chen à cidade. Lá, ela encontra o irmão mais velho, de quem foi separada quando era mais nova. Eles acabaram sendo enviados para lugares diferentes após a morte da mãe e o abandono do pai.

Gabe passou anos tentando encontrar Alex.

Esse reencontro começa muito bem, mas... Como os trailers mostraram, Gabe Chen, irmão de Alex, morre. Resta à protagonista descobrir quem é o responsável pela tragédia.

Nessa batalha para revelar a verdade, Alex aprende a dominar os próprios poderes e acaba tomando o lugar que um dia foi do irmão dela. Os amigos dele se tornam os amigos dela. O trabalho dele se torna o trabalho dela. A princípio, parece que tudo ainda pode dar certo. Contudo, estamos falando de Life is Strange.

Steph e Ryan, melhores amigos de Alex.

Ryan e Steph, os dois amigos mais próximos de Alex, são maravilhosos. Sempre que o trio principal se une, dá gosto de ver como eles se dão bem um com o outro. Não há como não torcer pelo bem desse grupo, que conta com uma veterana da série.

Sim! Steph é aquela mesma menina de Life is Strange: Before the Storm com quem jogamos um RPG de mesa. E melhor ainda: há um episódio inteiro que faz referência a isso, no qual True Colors se torna um game de RPG por turno com temática medieval. Não vou entrar em detalhes, por motivos óbvios, mas Steph se destaca quando chega esse momento da história. Talvez ela seja minha personagem favorita.

A melhor barista de Haven Springs.

A própria Alex é uma protagonista extremamente amigável. As observações irônicas que ela faz a respeito do que aparece ou de quem está por perto. A preocupação genuína com os demais. O cuidado com levar todos os pontos em consideração antes de sequer abrir a boca. A força para lidar com traumas terríveis. Não faltam motivos para desejar o melhor para a personagem principal. Não queremos sair de perto dela nunca.

Podemos dizer o mesmo a respeito de alguns personagens secundários. Há uma série de interações opcionais que podem melhorar a relação de Alex com outros nomes importantes de Haven Springs. A história "escondida" de Duckie, por exemplo, leva a um desfecho surpreendentemente emocionante. Foi, de longe, uma das cenas mais bonitas no jogo inteiro.

Ah, Duckie... Você merece o mundo.

O dilema de Riley. A verdade sobre Eleanor. O drama de Pike. Não faltam motivos para se manter engajado na história. Aliás, depois de muito tempo, as expressões faciais dos personagens melhoraram consideravelmente, o que ajuda a tornar mais críveis os sentimentos de cada pessoa. Ainda está longe do ideal, mas os sorrisos e olhares, em muitos casos, podem atingir nosso coração em cheio — apesar de outros serem assustadores.

Infelizmente, quando interagimos com NPCs enquanto exploramos a cidade, eles ainda falam olhando para frente como se não conseguissem identificar onde está a personagem principal. Nesses diálogos, durante a exploração de Haven Springs, é uma pena que todos pareçam tão robóticos e inexpressivos.

O namorado escritor é importante na parte de RPG.

Nas interações em que o enquadramento muda, como naqueles diálogos em que Alex precisa tomar decisões, por exemplo, tudo fica melhor. Só é uma pena que nem todas as interações sejam assim.

Falando em enquadramento, a Deck Nine está de parabéns pelas transições. Sempre que Alex sobe um andar na casa dela ou entra em uma loja, o nível de qualidade da animação, assim como os ângulos da câmera, pode fazer muitos jogadores pensarem que uma cutscene vai começar (sendo que, na verdade, só é muito bonito mesmo).

Esses momentos de reflexão definem Life is Strange.

O mesmo vale para as tomadas naqueles breves momentos de reflexão. O que seria de Life is Strange sem um banco no qual a protagonista pode se sentar e os jogadores podem ouvir os pensamentos dela enquanto uma música toca ao fundo? As imagens são espetaculares. Me surpreende que uma porcentagem pequena de jogadores aproveite esses minutos de contemplação e introspecção.

Apesar da beleza dessas cenas citadas, alguns detalhes no jogo geraram certo incômodo. Por algum motivo, sempre que eu movia a câmera, sentia que existia uma pequena queda na taxa de quadros, como se algo estivesse impedindo uma movimentação mais suave do meu campo de visão. Fica agarrando, sabe?

Quando eles acertam, fica excelente.

Também existe a questão de que, mesmo nos diálogos principais, aqueles em que claramente existe direção em vez de serem simples interações com NPCs que nem olham na nossa cara, há um espaço maior do que o necessário entre as falas de uma pessoa e outra. Conversas no mundo real não são tão pausadas. O jogo devia permitir que as falas fossem praticamente uma em cima da outra quando entre amigos.

Há mais alguns pontos que mereceriam correção, mas são coisas que devem melhorar logo após o lançamento. Alex se levantando por meio segundo quando devia estar deitada. Vozes parando abruptamente depois de darmos um mísero passo para longe do interlocutor. Atraso no início de algumas cenas (no final do jogo). Acontece.

Preciso nem falar que as músicas são 10/10, né?

Life is Strange: True Colors é indispensável para fãs da série. Não importa se você pulou o segundo, pulou o primeiro ou jogou tudo e quer mais. A jornada de Alex Chen é simplesmente maravilhosa. Um estudo sobre empatia e humanidade, que testa a todo momento nossa disposição para ajudar os demais: sejam amigos próximos, conhecidos ou estranhos. No final, você vai querer abraçar (quase) todo o mundo.

Nota do crítico