10 curiosidades dos bastidores de The Last of Us que talvez você não saiba

Separamos algumas das histórias mais interessantes que aconteceram durante o desenvolvimento do jogo

Por Guilherme Dias 14.06.2020 15H18

The Last of Us é um dos maiores jogos da última década e existem histórias quase tão incríveis quanto o próprio jogo ao longo do seu desenvolvimento, marketing e lançamento. Para celebrar essa continuação que tá chegando após sete anos, nada melhor do que contar eventos curiosos dos bastidores do The Last of Us original que talvez você não saiba. 

Sempre lembrando que se você sentir falta de algo muito importante nessa seleção, é só deixar aqui nos comentários. E fica o aviso: teremos spoilers da campanha principal de The Last of Us 1 aqui, então se você ainda não jogou, a recomendação é deixar para ler e assistir ao vídeo só depois que terminar ela, ok? 

10 - A Naughty Dog mentia nas entrevistas

Durante as entrevistas com desenvolvedores e atores ao longo da divulgação de The Last of Us, antes do lançamento, a Naughty Dog mentiu várias vezes. A orientação veio do próprio diretor criativo Neil Druckmann, que queria evitar que a equipe deixasse escapar algumas surpresas falando demais.

Uma delas foi sempre negar que a Ellie seria uma personagem jogável, já que todo material de divulgação só mostrava gameplay com o Joel. Aí, quem jogou na época acabou vendo que felizmente dava para jogar com os dois. Outra lorota foi relacionada ao port do jogo para o PlayStation 4, console que seria lançado só cinco meses depois do game.

A Naughty Dog disse publicamente que o jogo teria apenas uma versão no PS3, mas era também mentira, porque o na versão remasterizada começou assim que o desenvolvimento do game original foi concluído.

9 - O easter-egg em Uncharted 3 quase estragou o anúncio

Em 2011, tinham duas grandes coisas acontecendo na Naughty Dog. Eles anunciariam The Last of Us no mês de junho e lançariam Uncharted 3: Drake’s Deception no mês de novembro. Porém, houve um adiamento interno e a revelação de The Last of Us acabou acontecendo só no mês de dezembro daquele ano, durante o Video Game Awards.

O problema é que Uncharted 3, que sairia um mês antes desse anúncio, foi para as lojas com um easter-egg de The Last of Us, colocado lá para gerar hype, que os desenvolvedores simplesmente esqueceram de tirar.

No início de Drake’s Deception, na parte do bar, dá pra ver um jornal no balcão que diz “Cientistas estão tendo dificuldades para entender um fungo mortal”.

Os diretores de The Last of Us disseram que eles pisaram na bola em ter esquecido de remover essa dica, mas que, já que a Naughty Dog costumava ter um único time e eles tinham acabado de lançar um game, felizmente as pessoas nem desconfiaram.

E fica aí uma trívia de bônus: existe um bar praticamente igual ao de Uncharted 3 em The Last of Us e nome dele é “O’Sullivan”, em homenagem ao Victor Sullivan, que é o parceiro de Nathan Drake.

8 - Joel e Ellie têm sobrenomes extra-oficiais

Em nenhum momento de The Last of Us são revelados os sobrenomes dos protagonistas — na verdade, de nenhum personagem, exceto pela Riley Abel, da expansão Left Behind. Mas a versão física japonesa diz que o nome completo dos personagens principais são “Joel Miller” e “Ellie Williams

Oficialmente, isso não é canônico (pelo menos não até agora), mas algumas pistas corroboram essa informação. Usando o Photo Mode no início do jogo, dá pra ler um certificado no quarto da Sarah que revela que o nome dela é “Sarah Miller” e uma desenvolvedora que trabalha na Naughty Dog usou o nome “Ellie Williams” pra se referir numa foto à Ashley Johnson, que interpreta a Ellie.

7 - Climão com a Ellen Page

O trailer de revelação de The Last of Us em 2011 e os primeiros materiais de divulgação mostravam a Ellie com outra aparência, feições diferentes e como se tivesse uns dois ou três anos de idade a mais que em sua versão final. Todo mundo falou que tava igual a atriz Ellen Page.

Só que meses depois, em 2012, a Naughty Dog relançou o mesmo trailer modificando apenas o modelo da Ellie pra aquele modelo que nós vimos no lançamento.

Neil Druckmann, diretor criativo do game, falou numa entrevista ao IGN dos Estados Unidos que eles mudaram ela pra que refletisse melhor a personalidade da Ashley Johnson e que ela se encaixaria melhor na história que ela se parecesse mais jovem.

Acontece que mesmo assim, a primeira impressão ficou marcada na cabeça das pessoas e as comparações não pararam. Em uma seção de perguntas e respostas no Reddit, 10 dias após o lançamento do game, questionaram a Ellen Page sobre a suposta semelhança e ela disse que não gostou de ter sua aparência roubada e que ela estava sim em um jogo de videogame, mas ele se chamava “Beyond: Two Souls”.

Ironicamente, Beyond: Two Souls também era um exclusivo de PS3 para o ano de 2013. O assunto viralizou e a Naughty Dog comentou em seu Twitter oficial que, assim que eles soltaram o primeiro trailer lá em 2011, rolou essa confusão e as comparações levaram eles a revisarem o visual da Ellie.

6 - “Mulher na capa não vende jogo”

Aparentemente, o marketing da Sony queria que o Joel estivesse em destaque na capa de The Last of Us do PS3 e não a Ellie. Pelo menos foi o que o Neil Druckmann deu a entender em uma entrevista quando ele e a Ashley Johnson falavam sobre a indústria não colocar muitas mulheres na capa dos games, temendo que esses jogos não vendessem bem.

Druckmann contou que esteve em discussões onde foi pedido que ele colocasse a Ellie ao fundo da arte da capa e não na frente do Joel, mas que o time da Naughty Dog se recusou e falou que não ia fazer isso. E como a gente sabe, a versão comercializada foi essa aí mesmo, com a Ellie em destaque.

5 - Mulheres como inimigos

E falando em controvérsias com mulheres, em algum momento enquanto o game era elaborado, ele foi chamado de “Mankind” em vez de “The Last of Us” e tinha uma proposta meio bizarra: uma praga destrói a civilização e transforma as pessoas em monstros selvagens, mas somente mulheres são infectadas.

Agora, imagina o gosto duvidoso de um jogo em que você é um homem que só mata mulheres? Algumas funcionárias da Naughty Dog expressaram suas preocupações com esse conceito e ele foi descartado logo depois e ao contar a história os desenvolvedores reconheceram que foi uma ideia misógina da parte deles. 

Outra curiosidade sobre inimigos mulheres é que, apesar de você enfrentar infectadas, existem apenas caçadores homens — caçadores são os humanos que tentam matar você no jogo. Os desenvolvedores dizem que essa decisão não teve nada a ver com polêmicas de gênero, mas que faltou memória disponível no jogo pra incluir modelos femininos na campanha.

Lembrando que no multiplayer, é possível jogar com Caçadoras.

4 - O epílogo que ninguém viu

Depois do lançamento da expansão Left Behind, lá em 2014, aconteceu um evento chamado The Last of Us: One Night Live. Uma espécie de celebração do jogo que tinha apresentações musicais com o compositor do game, o Gustavo Santaolalla, e trechos da história reencenados pelos próprios atores do jogo.

Tudo isso passou em live e tem aqui no YouTube, porém… o Neil Druckmann escreveu uma cena de epílogo pra história que foi encenada lá mas não foi transmitida. E não há registros em vídeo disso na internet porque ele pediu pra ninguém filmar com o celular. 

Basicamente, essa cena entrega as seguintes informações: o Joel e a Ellie se juntam ao grupo do Tommy; o Tommy tá tentando fazer o Joel se interessar por uma mulher chamada Esther; a Ellie parece meio distante e talvez tenha sacado a mentira que o Joel contou pra ela; o Joel pega o violão toca uma música pra Ellie; eles riem juntos de uma piada ruim; e termina com ele prometendo ensinar ela a tocar violão também.

3 - As várias inspirações para The Last of Us

Apesar de The Last of Us contar uma história de um jeito bastante original nos games, a história em si não é tão original e esses elementos a gente já viu nas várias inspirações do projeto, que são bem populares.

Uma delas foi “Planet Earth”, a série de documentários da BBC onde Neil Druckmann conheceu o Cordyceps. Esse fungo Cordyceps age como um parasita que contamina insetos com esporos e cresce de dentro pra fora, controlando o hospedeiro antes de matar ele.  

Outras inspirações foram a Gripe Espanhola, que foi a pior pandemia da história matando dezenas de milhões de pessoas no mundo, e o livro “Cidade de Ladrões”, do David Benioff.

The Last of Us também foi influenciado por duas obras do escritor Cormac McCarthy. A primeira é o livro “A Estrada”, que conta a história de um pai tentando sobreviver com seu filho em um mundo pós-apocalíptico cheio de assassinos, e que em 2009 virou um filme estrelado pelo Viggo Mortensen.

E a segunda é a adaptação do livro “Onde os Fracos Não Têm Vez”, que é vencedor do Oscar de melhor filme de 2008.

Além do clima brutal e da tensão de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, outra coisa que The Last of Us pegou emprestado foi a aparência do Josh Brolin pro Joel e próprio nome do “Joel”, que veio do Joel Coen, que é um dos dois diretores do filme. 

Para fechar, o Neil Druckmann conta que o fato de ele mesmo ter se tornado pai também influenciou o roteiro história do game com o novo sentimento de coisas extremas que ele faria pra proteger o próprio filho.

2 - A história original era totalmente diferente

A trama original de The Last of Us era muito diferente antes e trazia um final totalmente nada a ver com o que a gente viu. Nessa versão, a Tess tinha um papel de vilã e perseguia o Joel e a Ellie durante o jogo inteiro depois de ter sido traída por Joel.

A Ellie, por outro lado, era uma personagem muito mais inocente e só chegava a matar pela primeira vez no final do jogo. Ela matava a Tess pra resgatar o Joel que tinha sido capturado por ela. O final original também era muito mais otimista e terminava com a dupla indo morar na cidade de São Francisco, onde as pessoas estavam reconstruindo a sociedade. 

O Neil Druckmann disse que essas ideias foram abandonadas porque eles não conseguiam fazer as motivações dos personagens funcionarem.

O porquê de Tess se arriscar cruzando o país todo por vingança, as razões da jornada do Joel… E os testes internos também revelaram que os jogadores não gostaram desse final mais feliz e acharam muito anticlimático.

Ironicamente, muitos testers também não gostaram da conclusão que a versão de lançamento teve e o Neil conta que até alguns designers da Naughty Dog não curtiram muito o final do jogo, mas que aí o tempo foi passando e esses desenvolvedores passaram a apreciar o jeito que as coisas terminaram na história.

1 - A cena da morte de Sarah criou tensões entre Troy Baker e o diretor

O Troy Baker, que é o ator que interpreta o Joel, conta no documentário de Making of que existia uma expectativa enorme antes da gravação de voz e movimentos desse trecho e que ele se preparou um monte pra entregar uma interpretação dramática, para fazer todo mundo chorar.

Aí eles gravaram e ele achou que tinha sido ótimo, mas o diretor Neil Druckmann falou pra eles fazerem de novo. Na verdade, foram umas 8 ou 9 tomadas depois disso até o diretor dizer que eles conseguiram.

Troy conta que se sentiu destruído pelo resto do dia pelo esforço emocional que ele precisou fazer e que já estava chorando entre os takes. Só que duas semanas depois, o Neil liga pra ele e fala que eles vão ter que refazer a cena. E ele não gostou nem um pouco.

Nessa outro dia de gravação, a cena parecia muito artificial em todas as tentativas e o Troy ficava mais irritado a cada tomada. O Neil então chama o Troy no canto e diz tá sentindo que o Troy tá sendo muito resistente e o Troy não nega e fica puto porque na opinião dele eles já tinha conseguido um bom take daquela cena.

Druckmann manda o Troy Baker esquecer de tudo que ele, como ator tinha elaborado pra cena, e executar exatamente como suas instruções de diretor diziam pra ele fazer. Baker fala que fez a cena com a cabeça distante e de forma quase mecânica, mas aí o Neil diz que ali eles tinham conseguido o take do jeito que ele queria. 

Bom, você com certeza já viu como a cena ficou e como eles acertaram em cheio, né?

Troy Baker conta que aquilo foi pra ele uma lição de humildade e que ele percebeu que a razão pela qual ele queria que a cena funcionasse é que as pessoas olhassem pra ele e achassem que ele era um ótimo ator, mas no fim ele percebeu que a cena só funcionou porque era a versão do Neil e porque ele estava trabalhando com um diretor excepcional em quem ele precisava confiar mais.