Review: Super Mario 3D World + Bowser's Fury

Mais um clássico esquecido do Wii U é resgatado pelo Switch

Por Pedro Henrique Lutti Lippe 10.02.2021 11H00

Super Mario 3D World é o mais novo clássico esquecido da Nintendo a ser exumado do cemitério do Wii U para ganhar uma nova chance na vida.

À essa altura, todos já conhecem o roteiro: apesar de ser excelente, esta aventura de Mario e companhia nunca teve uma oportunidade real de conquistar o público por conta das limitações do console anterior da Nintendo. Mas agora, com o sucesso do Switch, a empresa tenta emplacar o game mais uma vez.

Diferente de jogos como Pikmin 3 e Tropical Freeze, porém, Super Mario 3D World recebeu mais do que apenas o tratamento de “edição definitiva”: a nova versão do jogo vem acompanhada de Bowser’s Fury, uma breve aventura extra inédita que pode ser uma pista dos próximos passos da franquia.

Divulgação/Nintendo

Apesar de carregar “3D” no nome, Super Mario 3D World não é uma experiência tridimensional do Mario nos mesmos moldes de Sunshine ou Galaxy. Ele existe em um limbo entre esses jogos e os clássicos 2D da série, misturando a movimentação na terceira dimensão e a estrutura de progressão de Super Mario World.

As fases são lineares, e acabam com as boas e velhas bandeiras de chegada. Enquanto os cenários de Super Mario Odyssey são como pequenos mundos exploráveis, os estágios de 3D World mais parecem maquetes que Mario e companhia devem percorrer. A aventura ainda esconde pequenos segredos na forma de estrelas verdes e estampas colecionáveis, mas o foco está nos elementos de plataforma, e não na exploração.

O jogador que entrar em 3D World com as expectativas certas vai se divertir muito. O game utiliza sua estranha posição na franquia a seu favor, reaproveitando e misturando elementos dos jogos Mario 2D e 3D de maneira muito inteligente. São tantas ideias boas que algumas fases do jogo abrigam mais de um conceito que só aparece uma vez ao longo da jornada. Por conta disso, cada estágio tem uma proposta única, e não é raro o jogador ficar com vontade de repeti-lo imediatamente após vencê-lo pela primeira vez.

A seleção pouco convencional de power-ups à disposição de Mario e companhia é uma das grandes responsáveis pela diversidade encontrada ao longo da aventura. Dos clássicos obrigatórios, apenas a Fire Flower aparece. Os demais são todos power-ups que só aparecem de vez em quando, como a Super Leaf de Super Mario Bros. 3 e a Boomerang Flower. Os maiores destaques, porém, são o Super Bell, que transforma Mario em um gato capaz de escalar paredes, e a Double Cherry, que cria clones do herói e torna a ação extremamente caótica.

Divulgação/Nintendo

E por falar em caos, o multiplayer do jogo é essencial: até quatro jogadores podem enfrentar a aventura lado a lado, cooperando para progredir, mas também se atrapalhando ocasionalmente. Quando um grupo de amigos está montado no dinossauro Plessie, por exemplo, todos controlam a direção da criatura ao mesmo tempo, causando situações (e mortes) inusitadas. No Switch, o multiplayer também pode ser aproveitado online – o que é muito bem-vindo, especialmente em tempos de isolamento social.

Mas o foco no multiplayer também tem um lado negativo evidente: no geral, as fases parecem espaçosas demais quando o jogador está sozinho. É difícil enfrentar o game de maneira solitária e não ficar com a sensação de que está faltando algo. Muitos dos mapas se dividem em caminhos paralelos que dão no mesmo lugar – o que funciona no multiplayer, já que diferentes jogadores podem explorá-los ao mesmo tempo, mas que obriga jogadores solitários a ficarem um tempo circulando pela fase para pegar todas as moedas e colecionáveis. O ritmo da aventura sai um pouco prejudicado.

Felizmente para esses jogadores, a versão de Switch do jogo vem acompanhada de Bowser’s Fury, um conteúdo inédito criado com foco no single-player. (Um segundo jogador pode assumir o controle de Bowser Jr. neste modo, mas sua atuação é mais a de um assistente do que de um segundo jogador.)

Divulgação/Nintendo

Completamente alheio ao jogo base, Bowser’s Fury deve ser selecionado no menu inicial do game, e pode ser acessado livremente desde o começo, sem que progresso no 3D World seja necessário. Nele, você controla Mario em um único e enorme cenário aberto: um arquipélago em que até as árvores e pássaros têm orelhas de gatinhos. Aparentemente controlado pela gosma de Super Mario Sunshine, Bowser foi transformado em um monstro gigantesco e perdeu o controle de si, obrigando Bowser Jr. a recrutar a ajuda de Mario para fazer com que o vilão volte a um nível menos extremo de maldade.

Bowser’s Fury é uma experiência curta, com cerca de 3 horas de duração, mas que parece dar indícios do que pode ser o futuro dos jogos 3D do Mario. Ainda que ele reaproveite power-ups e outros elementos de 3D World, o jogo paralelo mais parece um DLC de Super Mario Odyssey em seu funcionamento. O jogador tem livre controle da câmera, e aqui, sim, o foco é a exploração. O objetivo é coletar Cat Shines, que trazem luz de volta ao mapa, enfraquecem Bowser, e liberam um power-up que transforma Mario em um gato gigante capaz de lutar de igual para igual com o monstrão.

O que impressiona no game é o seu caráter dinâmico: na medida em que Mario obtém Cat Shines, o cenário vai evoluindo e crescendo. Um exemplo: após vencer um chefe dentro de uma torre, eu deixei o local para explorar outro canto do mapa. Imediatamente após eu deixar a torre, porém, ela se ergueu, ganhando mais um andar. Resolvi voltar para lá e, ao adentrar a torre mais uma vez, enfrentei um novo chefe, mais difícil, no lugar onde estava o anterior.

Caso o jogador demore demais para coletar os Cat Shines, Bowser também começa a atacar com bolas de fogo, raios laser e outros obstáculos, fazendo com que até os objetivos mais comuns fiquem mais difíceis – novamente, de maneira completamente dinâmica. Para lidar com isso, o jeito é virar gigante e sair na porrada com Bowser. Quando o vilão é derrotado, novas ilhas e oportunidades surgem no mapa.

Divulgação/Nintendo

Em termos de experiências distintas dentro de um único pacote, vale retornar também à campanha básica de 3D World para mencionar as fases estreladas por Captain Toad. Incapaz de pular, o herói deve circular pequenos cenários evitando inimigos e resolvendo quebra-cabeças para coletar estrelas. São boas distrações, que no Switch ainda ganharam suporte a multiplayer.

Super Mario 3D World + Bowser’s Fury é a mais impressionante das conversões do Wii U para Switch até hoje. O jogo básico ganhou melhorias, como uma movimentação acelerada e suporte ao multiplayer online, e a adição do curioso Bowser’s Fury é uma boa motivação para os poucos que tiveram acesso ao original de Wii U. Se você é um fã de Mario que tem amigos igualmente fãs do Mario, esse é pra você.

Nota do crítico