Review: Hyrule Warriors: Age of Calamity

Fusão com Breath of the Wild faz de novo Hyrule Warriors um dos melhores jogos do estilo

Por Pedro Henrique Lutti Lippe 18.11.2020 11H00

Contrário ao que muitos acreditam, jogos do estilo Warriors oferecem muito mais do que apenas a oportunidade de derrotar mil soldadinhos por partida. A natureza estratégica do gênero se revela nos níveis de dificuldade mais altos, obrigando os jogadores a pensar em coisas como manutenção de território e posicionamento de unidades.

Hyrule Warriors: Age of Calamity vai ainda além disso.

Em sua segunda empreitada envolvendo a série Zelda, o estúdio Omega Force acoplou os visuais e muitas mecânicas de Breath of the Wild à fórmula clássica de Warriors, criando uma experiência mais profunda e envolvente do que muitos de seus projetos anteriores. E o jogo também aproveita a história de Breath of the Wild, ainda que... bem, daqui a pouco a gente fala sobre a história.

Divulgação/Nintendo

Apesar de compartilhar um nome com o Hyrule Warriors original, Age of Calamity está muito mais próximo de Breath of the Wild do que do jogo de 2014 - aquele, sim, que era um jogo Warriors nos moldes mais tradicionais.

Ameaçada por uma força maligna conhecida como Calamity Ganon, Hyrule depende da Princesa Zelda e de seu leal cavaleiro Link para não sucumbir ao caos. Os dois partem em uma jornada de conhecimento pelo reino, tentando encontrar uma forma de impedir a calamidade ao mesmo tempo em que colecionam novos aliados. Em seu caminho, porém, eles são forçados a lidar com exércitos de monstros e outros oponentes que anseiam pela ascensão de Ganon.

Como em qualquer jogo Warriors, as fases de Age of Calamity se passam em grandes mapas abertos divididos em territórios conquistáveis e repletos de centenas de inimigos fracotes e de algumas dezenas de oponentes formidáveis. O diferencial do game é a maneira como as batalhas contra as criaturas desse segundo grupo ocorrem: Link e seus aliados têm, além de combos básicos e um ou outro ataque especial próprio, acesso aos poderes concedidos pelo Sheikah Slate - uma espécie de tablet milenar que também é importantíssimo em Breath of the Wild.

Dependendo do comportamento de seu oponente, você pode aproveitar tais poderes para paralisá-los e contra-atacar. Caso o inimigo comece a correr contra você, por exemplo, é possível usar o Cryonis para criar um bloco de gelo contra o qual ele irá se chocar, ficando atordoado. Já o Magnesis pode arremessar uma arma metálica de volta contra quem a disparou - e por aí vai. Assim que o inimigo estiver com a guarda baixa, você pode atacá-lo para acabar com seu medidor de proteção e, em seguida, realizar um poderoso ataque em um ponto fraco.

A fusão entre Warriors e essas mecânicas de Breath of the Wild transformou o combate em uma experiência muito mais satisfatória. Em vez de tentar prender os oponentes em combos intermináveis, você deve observar seus movimentos para encontrar janelas de oportunidade. Também como em Breath of the Wild, desviar de uma investida no último instante reduz a velocidade do tempo e permite que você ative o Flurry Rush - uma sequência de ataques poderosos. Usar um escudo para bloquear um ataque no momento certo também cria uma situação parecida.

Embates contra inimigos mais poderosos ao longo das fases se beneficiam muito com as mecânicas, mas quem realmente brilha em Age of Calamity são os chefes. Com padrões de ataques complexos e estratégias próprias, eles não fariam feio em um RPG de ação tradicional - algo que surpreende, considerando que chefes costumam ser os pontos mais fracos até dos melhores jogos Warriors.

Divulgação/Nintendo

Mas não é só no que tange a ação que Age of Calamity se apoia na rica tradição de Breath of the Wild.

A diversidade dos cenários e personagens jogáveis pode ser traçada de volta para o game de 2017, tal qual a criatividade da genial trilha sonora, que combina as notas mais contidas da trilha de ambiente de Breath of the Wild com temas clássicos da franquia Zelda. Referências estão por todos os lados: Koroks podem ser encontrados escondidos pelos cenários, e os sistemas de progressão de personagens e armas tradicionais de Warriors, que normalmente seriam acessados por meros menus, aqui ficam dispostos no mapa de Hyrule como se fossem side-quests a serem cumpridas por Link e companhia.

É algo que quem é fã de Zelda provavelmente já antecipa a essa altura, mas vale ressaltar: mesmo sendo um jogo com um funcionamento completamente diferente, Age of Calamity é o jogo perfeito para represar a ansiedade pela sequência de Breath of the Wild.

Divulgação/Nintendo

O tom de recomendação é generalizado até este ponto, mas ela não é sem ressalvas. A principal é em relação à parte técnica: o Switch sofre bastante para rodar o jogo, que logo na primeira fase já tem dificuldades em manter a taxa de 30 quadros por segundo. As quedas de performance são tão comuns que o jogador acaba se acostumando após algumas horas, e fazem questionar se o título não foi concebido com uma versão mais poderosa do hardware em mente.

Felizmente, Age of Calamity não é daqueles jogos que rodam mal simplesmente por serem mal programados: os cenários estão sempre repletos de inimigos e detalhes, e até mesmo elementos visuais que poderiam ter sido reduzidos, mas não foram para manter a atmosfera similar à de Breath of the Wild, como a grama alta inflamável de Hyrule Field ou as chuvas torrenciais na região de Lanayru.

O outro problema é um pouco mais sério, mas requer certa discrição: é possível que certas pessoas considerem o parágrafo a seguir um spoiler.

A narrativa de Age of Calamity não é aquela que a campanha de marketing do jogo quer que você acredite que o jogo tem. Sem entrar em mais detalhes, mas sendo sugestivo o suficiente para que bons entendedores compreendam: "o jogo Age of Calamity é a única maneira de conhecer em primeira mão o que aconteceu 100 anos atrás [no mundo de Breath of the Wild]." Essa é uma frase tirada do site oficial do jogo. E essa frase não é representativa da experiência final.

O que existe em Age of Calamity em termos de história acabou me satisfazendo bastante, principalmente nos capítulos finais. É uma trama cheia de momentos emocionantes e de cutscenes empolgantes envolvendo personagens que adoro. Mas é impossível negar que a diferença entre o prometido e a realidade me deixou com um gosto ruim na boca.

Divulgação/Nintendo

Mas o resultado é inegavelmente positivo. Dentre as dezenas de jogos Warriors que já joguei, Hyrule Warriors: Age of Calamity é meu novo favorito.

O game combina elementos de muitos dos melhores jogos do estilo - a diversidade de personagens de Pirate Warriors 4, os sistemas de progressão interessantes de Dragon Quest Heroes II e a quantidade exorbitante de desafios de Warriors Orochi 4 - com mecânicas de Breath of the Wild, e faz tudo isso de uma maneira natural e muito coesa.

Talvez ele não seja o jogo Zelda que esperávamos para encerrar 2020, mas quem prefere ver o copo meio cheio o tratará como uma grata surpresa.

Nota do crítico