Review: Daemon X Machina
Ação com robôs gigantes personalizáveis é experiência única no Switch
Muito antes da série Souls alcançar o sucesso mundial, o arroz com feijão da From Software era outro: em vez de usar espadas e feitiços para derrubar demônios e outras monstruosidades, os heróis da série Armored Core enfrentavam seus oponentes a bordo de robôs gigantes munidos de metralhadoras, foguetes e canhões-laser.
Ainda que tivesse uma base de fãs dedicada o suficiente para justificar o lançamento de 20 jogos com a marca ao longo dos anos, Armored Core acabou ficando relegado à geladeira enquanto a From se concentrava na produção de jogos como Dark Souls e Bloodborne.
Daemon X Machina entra nesta história como uma espécie de sucessor espiritual não apenas para a velha série da From, mas também para outros jogos de combate em tempo real com robôs gigantes, como Chromehounds. O produtor Kenichiro Tsukuda, que trabalhou em títulos como Armored Core 2 e Silent Line: Armored Core, é quem carrega a tocha do gênero em nome da desenvolvedora Marvelous First Studio. A missão é recapturar a magia e o charme sci-fi destes jogos clássicos - um objetivo que é alcançado com primor neste exclusivo de Nintendo Switch.
O game coloca o jogador no controle de um mercenário novato, batizado carinhosamente pelos demais personagens de Rookie. Em um universo em que o impacto de um pedaço da Lua destruiu grande parte do planeta, o herói e todos os demais pilotos são chamados Outers - seres humanos que, após serem afetados por uma estranha energia, ganharam habilidades especiais. Em posse de seus robôs gigantes, os Outers formam a primeira linha de defesa da humanidade perante a inteligência artificial maligna que quer aniquilar a espécie.
Ao longo de uma dúzia de missões introdutórias, o jogador é apresentado a uma horda de personagens secundários - todos extremamente caricatos -, e à complexa mecânica de combate. É um sistema minucioso que cobra uma certa dedicação, mas que permite que os jogadores desafiem as missões de acordo com seu estilo de combate preferido. Os robôs gigantes podem deslizar pelo chão ou voar pelos céus, e têm acesso a diversas armas de longo alcance e de luta corpo-a-corpo. Dependendo da escolha de arsenal, é possível obter sucesso tanto partindo para cima dos combatentes inimigos, quanto ficando escondido atrás de prédios e outros obstáculos e aproveitando momentos oportunos para disparar tiros certeiros. Pessoalmente, encontrei mais diversão em uma mistura dos dois estilos de jogo, mas é excelente que ambos sejam viáveis.
No geral, a ação de Daemon X Machina acontece em grandes arenas abertas. Os objetivos das missões raramente fogem dos padrões básicos: derrote todos os inimigos, resista até o fim da contagem regressiva, defenda tal estrutura. Não muito diferente do que é visto em um Dynasty Warriors, o exército de inimigos é composto principalmente por unidades fracas, como drones e tanques de guerra, das quais o jogador é capaz de dar cabo com grande facilidade. Mas o Rookie também precisa enfrentar mechas munidos com o mesmo nível de poder de fogo que o robô que ele pilota, além de ocasionais chefes robôs gigantes, que são mais altos até mesmo que arranha-céus.
A mistura entre o caos do combate a bordo do mecha e a estratégia necessária para cumprir os objetivos de cada fase é muito empolgante. Daemon X Machina consegue fazer com que o jogador sinta-se no controle de um guerreiro metálico imparável - até mesmo quando outros conseguem pará-lo. Após algumas horas de jogo, certos tipos de missões começam a se repetir bastante, mas o simples prazer de controlar o mecha torna divertido até mesmo o objetivo mais entediante.
Os combates contra inimigos gigantescos são os momentos mais empolgantes do game
DivulgaçãoApós pegar o ritmo da ação, o jogador é apresentado então aos aspectos de personalização dos robôs Arsenal: a parte mais divertida de todo o game. Além de poder alterar livremente o visual do mecha, o Rookie também consegue manipular seus atributos e capacidades, equipando diferentes motores, peças de armadura, e até armas, como baterias lança-mísseis e espadas laser. É até mesmo possível coletar e reaproveitar partes de robô deixadas para trás por adversários abatidos em combate.
Um Arsenal top de linha, montado e manipulado de acordo com as preferências de seu usuário, consegue acabar com todos os desafios da campanha com facilidade. E é aí que entra o modo multiplayer: é possível conectar-se com outros três jogadores para testar a força de seu robô em batalhas cooperativas contra chefões extremamente poderosos, ou então enfrentá-los em combates de jogador contra jogador.
Daemon X Machina tem vários defeitos - a performance peca em alguns momentos decisivos, a história é inteiramente previsível, e muitos dos personagens secundários são estereotipados em um nível que beira o ridículo. Mas o jogo brilha nos dois aspectos que mais importam: o combate e a personalização dos robôs.
Para fãs de um gênero praticamente esquecido, bastaria que Daemon X Machina fosse meramente passável. Felizmente, ele é muito mais.