Review: Advance Wars 1+2 restaura clássicos fazendo apenas o mínimo

Re-Boot Camp remasteriza jogos do GBA sem nunca fugir do básico

Por Pedro Henrique Lutti Lippe 19.04.2023 10H00

Depois de 15 anos de abandono, a mais azarada franquia dos games retorna com uma coletânea para o Nintendo Switch. Re-Boot Camp revisita os dois jogos Advance Wars do Game Boy Advance em alta definição, em um esforço que até poderia ter sido planejado como um recomeço para a série, mas que provavelmente será seu último suspiro.

Desenvolvido pela WayForward, o pacote acabou adiado em um ano por conta da invasão russa à Ucrânia – o que é emblemático, já que a estreia original da série na Europa também havia sido adiada por conta dos atentados de 11 de setembro de 2001.

Agora, finalmente libertado, o jogo brilha com um novo visual que lembra o de brinquedos em um tabuleiro, mas se revela excessivamente fiel aos originais, perdendo a oportunidade de expandir elementos como o modo multiplayer e a velocidade dos combates.

Divulgação/Nintendo

Situada em um continente dividido em quatro nações, a trama de Advance Wars começa sob a perspectiva de Andy, um novo comandante do exército de Orange Star que se vê forçado a combater as forças invasoras de um país vizinho logo em sua primeira missão.

É uma história simples, e estranhamente lúdica em seu tratamento da guerra: Andy e seus companheiros estão sempre sorridentes e brincalhões demais para quem está enviando dezenas de soldados para a morte certa nos campos de batalha. Nisso, a estética de Re-Boot Camp ajuda: é mais fácil relevar a loucura quando os soldados mais parecem soldadinhos de plástico em cima de um tabuleiro.

As campanhas do primeiro jogo e de Advance Wars 2: Black Hole Rising, somadas, trazem mais de 55 missões de história. Ao avançar por elas, o jogador começa a desbloquear novos comandantes – como Sami, cujo poder especial facilita a movimentação de unidades de infantaria, ou Eagle, que consegue fazer com que aviões e helicópteros realizem duas ações em um único turno.

Divulgação/Nintendo

Diferente de Fire Emblem, a outra franquia de jogos de estratégia da Intelligent Systems, Advance Wars não emprega unidades únicas em combate, nem a mecânica de ‘morte permanente.’ É uma perspectiva diferente: soldados da infantaria, tanques e submarinos são descartáveis, e podem até mesmo ser substituídos por novos recrutas em mapas que incluem fábricas no cenário.

Pessoalmente, acho a fórmula de Advance Wars mais desafiadora, pois o jogador é obrigado a computar possibilidades estratégicas como o sacrifício de uma unidade para revelar o posicionamento do inimigo no mapa, que é uma ideia que não surge de maneira orgânica na cabeça de quem gosta de conservar ao máximo suas forças.

Não demora para que o jogo revele suas garras: lá pela missão 6 ou 7 da primeira campanha, já é bem possível fracassar e precisar reiniciar os trabalhos por conta de desatenção. Em contrapartida, um jogador sagaz consegue atrair todas as unidades inimigas para um lado do mapa em uma fase particularmente difícil, enquanto uma única infantaria pega a retaguarda e domina o centro de comando do oponente.

Partir pra cima com tudo raramente dá certo, e o processo de descobrir quais estratégias realmente funcionam para cada fase é muito satisfatório por conta da quantidade de opções que o jogador tem ao seu dispor: lança-mísseis, tanques, morteiros, baterias antiaéreas, bombardeiros, helicópteros, jipes, caças, cruzeiros...

Divulgação/Nintendo

Mas a genialidade da fórmula de Advance Wars não é mérito deste relançamento, e sim dos jogos originais. E infelizmente, além da vantagem inerente de ser capaz de apresentar os jogos para novos públicos, Re-Boot Camp não tem grandes méritos próprios.

Como principais novidades, a coletânea tem um modo de criação de mapas que une elementos dos dois jogos em um único pacote, além de uma galeria que reúne artes conceituais e músicas da trilha sonora. Um novo comando, ativado com o gatilho ZR, também permite acelerar o ritmo do combate e pular certas animações – mas ele não é nem de perto tão rápido quanto poderia ser.

De resto, a experiência é praticamente idêntica à clássica. Caso a terceira campanha, de Dual Strike, também estivesse no pacote, a história seria diferente – mas a realidade é que daria tranquilamente para trocar a nova coletânea por um relançamento dos originais de GBA no aplicativo de emulação do Nintendo Switch Online.

O ponto saliente mais decepcionante, porém, é o modo online: eu diria que ele é pobre “nível Nintendo em 2008,” mas a realidade é que o online de Advance Wars: Days of Ruin, que foi lançado em 2008, era mais completo, permitindo que você jogasse partidas ranqueadas. Em Re-Boot Camp, a única opção é enfrentar, 1 contra 1, amigos já registrados no seu Switch. Nada de partidas contra desconhecidos, modo de disputa assíncrono, ou qualquer coisa assim – apenas o mínimo do mínimo.

Divulgação/Nintendo

Independentemente do sucesso ou fracasso de Re-Boot Camp, é difícil imaginar que a Nintendo voltará a insistir em uma franquia que depende do bom humor da geopolítica internacional para chegar às lojas. Mas todo recomeço traz uma esperança: no caso, a de que o relançamento sirva como base para um capítulo inédito na série, que traga pelo menos um pouquinho de ambição dentro de si.

Re-Boot Camp tem sorte de fazer parte da franquia que faz, já que nem mesmo as inúmeras oportunidades perdidas tiram a diversão de Advance Wars.

Nota do crítico