Quadrinhista dos EUA que se mudou para o México fala de conflito armado em Oaxaca

Quadrinhista dos EUA que se mudou para o México fala de conflito armado em Oaxaca

Por Érico Assis 17.11.2006 00H00


Reprodução de Peter Kuper de um cartaz de protesto

O cartunista estadunidense Peter Kuper (O Sistema, A Metamorfose) mudou-se em junho com a família para a cidade de Oaxaca, no México, para ter uma experiência estrangeira por um ano. Mal sabia ele que estaria metido num dos conflitos políticos mais perigosos do país nos últimos anos.

Grupos ativistas demandam a renúncia do governador do Estado de Oaxaca, Ulisses Ruíz, acusado de corrupção. Ruíz, por sua vez, convocou tropas policiais e militares para controlar os protestos, com violência. A manifestação, que começou em maio com um greve de professores, aos poucos transformou-se num conflito armado com contagem de corpos. No fim de outubro, a morte de um jornalista dos EUA, baleado por forças convocadas pelo governador, piorou a situação.

Kuper tem escrito, na sua newsletter por email, que ele, sua esposa e filha estão bem, e que a revolta está concentrada em locais isolados, longe de onde mora. Mas, numa recente visita ao centro da cidade, o cartunista confirmou que o lugar está virado numa zona de guerra.

Na hora em que cheguei (4 da tarde), as marchas já tinham acabado e as pessoas estavam só perambulando por ruas bem calmas. A algumas quadras da Zócalo [praça central], você nem nota algo fora do comum. Enquanto me aproximava, a fumaça das barricadas em chamas foi o primeiro sinal do que tinha acontecido no dia anterior, escreveu Kuper no dia 31 de outubro.

Quando cheguei a uma quadra da Zócalo, dava pra ver que tudo estava diferente...

Fui MUITO surreal ver os militares bloqueando a praça.

Mulheres repreendiam a Policia Federal Preventiva na cara por suas ações e as pessoas tinham escrito nos escudos deles OAX Libre e Asesinos sem que eles se mexessem.

Estava estranhamente calmo para um lugar com polícia anti-revolta e barricadas em chamas. Tinha gente cantando e, pelo menos enquanto eu estava lá, nenhum tipo de violência.

É claro que isso podia mudar assim que alguém puxasse um gatilho e eu estava pronto pra sair correndo assim que visse um molotov, mas de alguma forma ver aquilo de perto me aliviou mais do que ficar imaginando o que estava ou não acontecendo.

Kuper espera que o conflito se resolva logo, preferencialmente com a queda do governador Ulisses Ruíz, que mantém-se irresoluto na sua decisão de controlar os protestos com força bruta. Apesar desta situação insana, continuamos muito felizes em estar aqui e adorando nossa estada em Oaxaca, esperando uma resoluçao pacífica.

Os comunicados de Kuper, com desenhos e fotos que faz na cidade, podem ser acompanhados aqui.