Livro: Os Milionários de Brad Meltzer

Livro: Os Milionários de Brad Meltzer

Por Érico Assis 10.02.2005 00H00
Os Milionários - Brad Meltzer

Se você é fã de quadrinhos e não passou 2004 em Plutão, tem que saber quem é Brad Meltzer.

No ano passado, o escritor norte-americano sacudiu a editora DC Comics com a minissérie/evento Identity crisis, uma delicada análise das relações de confiança entre os heróis da editora. Nas bancas brasileiras foi a vez da edição especial Arqueiro Verde: a busca, um dos melhores gibis do ano passado e o único outro trabalho de Meltzer nas HQs.

A carreira do autor, porém, não começou nos quadrinhos, e sim na literatura.

Meltzer é autor de cinco livros de suspense que são sucessos de crítica e público nos Estados Unidos, todos tendo figurado na lista dos mais vendidos do New York Times. Suas campanhas publicitárias só perdem em tamanho para as de John Grisham ou Michael Crichton. Meltzer já até interpretou a si próprio no filme Celebridades, de Woody Allen. E este ano teve sua proposta para uma série de TV (criada com Steve Cohen), Jack & Bobby, aprovada e posta em produção em tempo recorde. O cara é dos grandes.

Pois, em 2004, as livrarias brasileiras finalmente conheceram suas obras.

Os milionários, lançado no final do ano passado pela Record, é o quarto livro de Meltzer e o primeiro a ser editado no Brasil. Nossa chance de saber por que ele é um autor tão comentado.

Pronto para filmar

Se Os milionários é um bom exemplo do resto da obra de Meltzer, não estamos perdendo nada. O livro é mais um roteiro de cinema do que literatura. As cenas estão armadas, quase com as marcas no cenário, para o típico filme hollywoodiano carregado nos clichês e nas reviravoltas.

Os irmãos Charlie e Oliver Caruso trabalham num banco nova-iorquino que só atende multimilionários. Após quatro anos, os dois não estão nem um pouco satisfeitos com o serviço, mas têm que mantê-lo para pagar o tratamento da mãe doente. Um belo dia, encontram a solução: uma conta inativa e esquecida, cujo titular morreu, e cujos três milhões de dólares serão doados para o governo. É só digitar algumas coisas, abrir uma conta num paraíso fiscal e pronto - a grana será só deles e ninguém vai ficar sabendo.

Uma noite de dúvidas e alguns minutos de clics e telefonemas depois, o dinheiro está seguro numa conta em Antígua. O problema acontece quando Oliver pede seu saldo: os três milhões se transformaram, como mágica, em 313 milhões de dólares.

Estamos num banco de multimilionários, portanto os mais avançados sistemas de segurança entram imediatamente em ação para descobrir os culpados do inexplicável rombo. Só resta aos irmãos Caruso pensar rápido e correr, correr muito.

Armado o mistério, cada página aumenta o volume do suspense - enquanto fogem, Charlie e Oliver também têm que descobrir como seu dinheiro roubado se multiplicou da noite para o dia. A rota de fuga e investigação tem que contornar truculentos agentes do serviço secreto, investigadores particulares e outros obstáculos para descobrir um mirabolante plano de enriquecimento ilegal. Para tornar as coisas mais surreais, o clímax se dá nos subterrâneos da Disneyworld.

Pode parecer intrigante, mas para quinhentas páginas de livro em que cada um dos noventa capítulos termina com uma reviravolta planejada para fazer você pensar mas como? ou o quê!?, é algo que se torna rapidamente chato. O mistério vai se desvendando às migalhas, e cada peça complica mais as coisas - previsível. Como se já não bastasse a estrutura, os próprios cliff-hangers também são clichês dos mais abusados em Hollywood. É um livro que quer ser filme, e um filme ruim.

Brad Meltzer, no fim das contas, entra na mesma linha de Crichton, Grisham e Dan Brown, todos autores de romances que são resultados de pesquisas aprofundadas sobre um determinado assunto - no caso de Os milionários, os crimes fiscais na era digital - mal encobertos por uma história fraca. Parece ser, porém, o que o público norte-americano gosta, visto o volume de vendas desse pessoal.

Se a obra literária de Meltzer tem alguma validade, é encher seus bolsos para que continue escrevendo quadrinhos, sua paixão declarada (que, infelizmente, não dá dinheiro). Mesmo quando destruída pelos críticos mais duros, qualquer edição de Identity crisis é melhor do que Os milionários.