Já nos primeiros capítulos do livro, contudo, as dúvidas são esquecidas e fica difícil interromper a leitura antes de chegar ao final. Uma vez mais, a aventura começa no número 4 da rua dos Alfeneiros. É lá que residem os Dursley, família adotiva (e insuportável) de Harry - a pior que um jovem mágico poderia desejar, ainda mais como companhia no dia do seu aniversário. Pra sorte dele, seus melhores amigos logo aparecem e logo a turma toda está reunida. Estão lá o sardento Rony Wesley e a estudiosa Hermione Granger, além do gigante e parrudo Rúbeo Hagrid, guarda-caça da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. A atenção aos detalhes e a habilidade Rowling nas caracterizações faz do reencontro uma experiência tão agradável para os leitores quanto para o nosso protagonista.
Em Hogwarts, o ano letivo chega acompanhado de um novo professor: Gilderoy Lockhart. Ele ensina Defesa Contra as Artes das Trevas e é uma celebridade no assunto. Extremamente vaidoso, se auto-entitula "O Sorriso Mais Simpático do Mundo". Há também novos alunos. Um deles parece viver só para tirar fotos de Harry Potter. Gina, a caçula dos Wesley, apaixonada pelo menino mágico, também inicia seus estudos. Draco Malfoy entra para o time de quadribol da Sonserina (eterna rival de Grifinória - time do Harry) e torna as partidas ainda mais emocionantes. Ambos jogam na mesma posição, apanhador, por isso, a rixa entre os dois vai além do lado pessoal, e entra também nas quadras.
Engana-se, no entanto, quem imagina que as emoções ficam restritas ao campeonato de quadribol e ao cotidiano nada normal da escola dirigida pelo insuperável bruxo Alvo Dumbledore. Novamente, o menino que ganhou notoriedade entre os praticantes de magia por sobreviver, ainda bebê, ao ataque do campeão das trevas Voldemort, tem toda a coragem colocada à prova contra uma ameaça aterradora. O mistério começa quando alguns freqüentadores da escola são encontrados petrificados ao lado de uma mensagem cruel. O desenrolar da trama, naturalmente, não será revelado nesta resenha, pois o melhor a fazer é acompanhar com atenção cada detalhe do enigma nas páginas do próprio livro.
Howling tem o mérito de mesclar humor e fantasia a doses fortíssimas de aventura, com direito até a aranhas gigantes, e alguns aspectos mais sérios, lentamente revelados no decorrer da narrativa. É sabido que em sua realidade, os bruxos geralmente nascem em famílias de bruxos. É o caso de Harry, que acabou sendo criado por trouxas - como são conhecidos os "não-bruxos" - após a morte de seus pais. Alguns porém, nascem em famílias de trouxas, como sua amiga Mione e, como não poderia deixar de ser, há famílias de mestiços. Em HP e a Câmara Secreta, temos muito bem explorado o tema das diferenças e do preconceito com relação aos de origem "impura". Além disso, o enredo expande e fortifica a mitologia própria da série. Embora seja uma aventura independente, suas ramificações envolvem o passado distante de Hogwarts, desde a época dos bruxos fundadores da Escola.
Algumas críticas recentes acusam Harry Potter de ser superficial e sua criadora, de se repetir muito. Comentários injustos, principalmente ao considerarmos o tanto de diversão que a série proporciona. E com maestria! O pequeno herói pode não possuir moralidade ambivalente e nem sua história servir de tese sobre a psicologia racista, mas sua inocência é parte da fórmula vencedora. O fascínio reside justamente em assistir a uma criança capaz de enfrentar o mal realizando ações dignas de guerreiros experientes. Com a passagem de um ano de um livro para outro, o amadurecimento surge de forma gradual, tanto nos personagens quanto nas próprias tramas. Harry Potter, afinal, é entretenimento inteligente e recomendado para todas as idades. Seguramente, um pouco de magia em nossas vidas não tem como nos fazer mal.
Leia também:
Harry Potter e a pedra filosofal
Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban
Harry Potter e o cálice de fogo