Harry Potter e a câmara secreta

Harry Potter e a câmara secreta

Por Marcus Vinícius de Medeiros 20.06.2001 00H00

Como na maioria das continuações, é compreensível a ocorrência de pensamentos conflitantes nos momentos que antecedem a leitura de Harry Potter e a Câmara Secreta (segundo volume da série de sucesso mundial, criação da escocesa J. K. Rowling, publicado na Brasil pela Editora Rocco, com tradução de Lia Wyler em 287 páginas). Antes de mais nada, existe a vontade de rever o menino bruxo e mergulhar de cabeça no universo de maravilhas apresentado em Harry Potter e a Pedra Filosofal. Logo surgem as dúvidas. Será que a qualidade foi mantida&qt;& Será que Rowling é uma escritora de verdadeiro talento, capaz de manter vivo o interesse no personagem&qt;&

Já nos primeiros capítulos do livro, contudo, as dúvidas são esquecidas e fica difícil interromper a leitura antes de chegar ao final. Uma vez mais, a aventura começa no número 4 da rua dos Alfeneiros. É lá que residem os Dursley, família adotiva (e insuportável) de Harry - a pior que um jovem mágico poderia desejar, ainda mais como companhia no dia do seu aniversário. Pra sorte dele, seus melhores amigos logo aparecem e logo a turma toda está reunida. Estão lá o sardento Rony Wesley e a estudiosa Hermione Granger, além do gigante e parrudo Rúbeo Hagrid, guarda-caça da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. A atenção aos detalhes e a habilidade Rowling nas caracterizações faz do reencontro uma experiência tão agradável para os leitores quanto para o nosso protagonista.

Em Hogwarts, o ano letivo chega acompanhado de um novo professor: Gilderoy Lockhart. Ele ensina Defesa Contra as Artes das Trevas e é uma celebridade no assunto. Extremamente vaidoso, se auto-entitula "O Sorriso Mais Simpático do Mundo". Há também novos alunos. Um deles parece viver só para tirar fotos de Harry Potter. Gina, a caçula dos Wesley, apaixonada pelo menino mágico, também inicia seus estudos. Draco Malfoy entra para o time de quadribol da Sonserina (eterna rival de Grifinória - time do Harry) e torna as partidas ainda mais emocionantes. Ambos jogam na mesma posição, apanhador, por isso, a rixa entre os dois vai além do lado pessoal, e entra também nas quadras.

Engana-se, no entanto, quem imagina que as emoções ficam restritas ao campeonato de quadribol e ao cotidiano nada normal da escola dirigida pelo insuperável bruxo Alvo Dumbledore. Novamente, o menino que ganhou notoriedade entre os praticantes de magia por sobreviver, ainda bebê, ao ataque do campeão das trevas Voldemort, tem toda a coragem colocada à prova contra uma ameaça aterradora. O mistério começa quando alguns freqüentadores da escola são encontrados petrificados ao lado de uma mensagem cruel. O desenrolar da trama, naturalmente, não será revelado nesta resenha, pois o melhor a fazer é acompanhar com atenção cada detalhe do enigma nas páginas do próprio livro.

Howling tem o mérito de mesclar humor e fantasia a doses fortíssimas de aventura, com direito até a aranhas gigantes, e alguns aspectos mais sérios, lentamente revelados no decorrer da narrativa. É sabido que em sua realidade, os bruxos geralmente nascem em famílias de bruxos. É o caso de Harry, que acabou sendo criado por trouxas - como são conhecidos os "não-bruxos" - após a morte de seus pais. Alguns porém, nascem em famílias de trouxas, como sua amiga Mione e, como não poderia deixar de ser, há famílias de mestiços. Em HP e a Câmara Secreta, temos muito bem explorado o tema das diferenças e do preconceito com relação aos de origem "impura". Além disso, o enredo expande e fortifica a mitologia própria da série. Embora seja uma aventura independente, suas ramificações envolvem o passado distante de Hogwarts, desde a época dos bruxos fundadores da Escola.

Algumas críticas recentes acusam Harry Potter de ser superficial e sua criadora, de se repetir muito. Comentários injustos, principalmente ao considerarmos o tanto de diversão que a série proporciona. E com maestria! O pequeno herói pode não possuir moralidade ambivalente e nem sua história servir de tese sobre a psicologia racista, mas sua inocência é parte da fórmula vencedora. O fascínio reside justamente em assistir a uma criança capaz de enfrentar o mal realizando ações dignas de guerreiros experientes. Com a passagem de um ano de um livro para outro, o amadurecimento surge de forma gradual, tanto nos personagens quanto nas próprias tramas. Harry Potter, afinal, é entretenimento inteligente e recomendado para todas as idades. Seguramente, um pouco de magia em nossas vidas não tem como nos fazer mal.

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