Don´t Mind the Gap

Don´t Mind the Gap

Por Mariana Della Barba e Marcelo Forlani 26.07.2002 00H00

Oi! (Por Marcelo Forlani)

Semana passada estávamos em Berlin. Brincando eu falei oi! e o meu amigo que mora lá disse cuidado! Oi é um cumprimento usado pelos skinheads que escutam ska. Levei o aviso a sério e não o repeti mais. Foram oito dias na Alemanha. Sete deles debaixo de um céu tão cinzento quanto o que vemos aqui em Londres quase todos os dias. O sol só apareceu (claro) no dia de voltar para casa... e mesmo assim com direito a uma pusta chuva de verão, da qual só escapamos porque entramos numa sorveteria.

Espero que você esteja interessado na nossa viagem pela Alemanha, porque esta edição do Don’t Mind the Gap vai tratar basicamente do que vimos lá na terra da cerveja e da lingüiça. Claro que tem também espaço para os filmes, discos e novidades que vimos, ou ouvimos nestas semanas que sumimos (culpa da Copa do Mundo!).

Era uma igreja muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...


A tal da igreja que foi destruida,
mas continua de pé


A entrado do campo de concentração que serviu de piloto para os demais. Chocante!!

O que sobrou do Muro de Berlin. Boa parte da cidade ou tem esta linha de tijolos no chão, onde ficava o muro, ou tem o muro em si.

Marienplatz, em Munique

Aproveitando que você pode estar empolgado depois de tanto tempo sem ler a coluna, vou começar falando de uma coisa que não tem muito a cara do Omelete, mas que é tão interessante que vale a pena perder uns segundinhos lendo: a arquitetura berlinense. Se o tópico não lhe agrada, pule para o próximo :)

Nos dias que passamos pela capital alemã pudemos ver coisas completamente diferentes das que vimos em Frankfurt, Colônia, Koblenz e Munique. Berlin não tem apenas as casas antigonas e palácios do século XIX. A cidade tem vários prédios nazistas que sobreviveram à Segunda Guerra (ou foram reconstruídos). Tem também muito da arquitetura comunista. Tudo isso escondido em meio ao enorme canteiro de obras no qual a cidade se transformou desde a queda do muro, mas que piora a cada dia que a Copa do Mundo de 2006 fica mais perto. Mas nada me impressionou mais do que ver uma igreja em ruínas. Não sei se foi porque foi a primeira coisa que vi quando saí da estação ou se foi porque aquilo é realmente extraordinário, mas que marcou, marcou.

Quem diria, hein?

O estereótipo do alemão é aquele cidadão mal-humorado, certo? Certíssimo! Tirando raríssimas exceções (que só servem para confirmar a regra), o povo lá não tá muito preocupado com o bem-estar dos turistas que se aventuram a entrar no país sem falar algo além de Michael Schumacher, Boris Becker e Franz Beckenbauer. Num esforço fora do comum aprendemos o tal do Sprechen Sie Englisch?, que polidamente quer dizer você fala inglês?. E foi assim que aprendi a segunda coisa na língua deles: Nein (não). E para fixar bem a aula, todos eles repetiam sempre a mesma coisa: nein, nein, nein. Acho que esta foi a palavra que mais ouvi lá na terra do chucrute.

Vive la France!

E como nem o meu forte era o alemão e nem o deles era o inglês, ou menos ainda o português, o que mais comemos por lá foi croissant. Isso mesmo, aquele pão que você tem que fazer biquinho para falar o nome e também para comer, senão a massa folheada acaba caindo no chão. E não é que o tal do croissant dos alemães é bom?! Dois em especial valem até uma menção honrosa: o de Nougat (nozes) que comemos em Koblenz e o de marzipam e canela lá em Berlin. Nossa, só de lembrar dá vontade de voltar para lá! Em Munique dá pra ir sem medo nos que são vendidos na cadeia Müller.

Do túnel do tempo

Estamos fora do Brasil há quase 6 meses. Nestes dias de Londres, uma das coisas que mais sentimos falta era da comida brasileira. Aqui, eles só comem feijão misturado com molho de tomate (ARGH!). E não é que tivemos que viajar até Berlin para comer pão de queijo, quindim, feijoada, bobó de camarão e tomar Guaraná Antarctica? Não que estas coisas não existam aqui em Londres, elas apenas são mais caras. De brasileiro só faltou a caipirinha. Quer saber porquê? Continue lendo...

Caipirinha para alemão beber

Logo que chegamos na Alemanha, um amigo nosso - brasileiro - contou que tinha dado uma festa na noite anterior e feito caipirinha para a gringaiada. Sabe qual a primeira reação deles? Não, não foi se deliciar com a bebida. Foi ficar abismado com o fato dele colocar açúcar refinado no copo. Alguém andou espalhando por lá que a caipirinha que nós bebemos no Brasil é feita com açúcar mascavo!!! Junte o nosso medo do efeito brown sugar aos exorbitantes preços e você entenderá porque optamos pelo bom, velho, querido e saudoso Guaraná :)

Coisas de Londres que NÃO sentimos falta enquanto estávamos em Berlin:

  • Sujeira nas ruas. As ruas berlinenses são muito bem limpas. Há latas de lixo para tudo que é lado. Mais do que isso, há latas para separar vidros, papel, metais, etc.



  • O tempo nublado. Como já dissemos, dos oito dias que passamos na Alemanha, só vimos sol no fim do sabado e no domingo.

Coisas de Londres que SENTI falta enquanto estava em Berlin:

  • O direito de ir e vir. Aqui posso atravessar a rua fora da faixa de pedestres e a qualquer momento. Não tem aquela coisa certinha de ficar esperando o hominho verde aparecer no farol de pedestres.



  • Entender o que as pessoas falavam. Além do fato de mal conseguir comprar uma água (wasser, como eles dizem lá), não dava para ler um jornal ou revista, assistir a um programa de TV, nem dar risada das coisas que as pessoas falam pra gente. Ex. Um mendigo tentou vender uma revista tipo Big Issue pra gente no metrô. Tentando ser o mais alemão possível, falei para ele nein. Depois o meu amigo disse que o cara falou algo como Vossa senhoria não gostaria de adquirir um exemplar da revista?. Pô, e eu perdi isso!? :D

Acredite se quiser

Três fatos engraçados que aconteceram com a gente nesta viagem:

  1. Na nossa última noite em Berlin fomos ao cinema ver Lilo & Stitch. O novo desenho da Disney só deve estrear em Londres em setembro, então aproveitamos e fomos conhecer o cinema berlinense, que em alemão é kino. Assim como acontece aqui na terra da Rainha, antes de começar o filme tem uns 20 minutos de comerciais e trailers. Até aí tudo bem, afinal no Brasil isso também é prática comum. Mas o engraçado foi que as luzes se acenderam depois da propaganda de um sorvete e um carinha com o uniforme do cinema entrou na sala e começou a falar. Como não entendo nada de alemão fiquei imaginando que ele disse algo como senhoras e senhores, desculpem-me por interromper o seu filme, mas estou aqui para vender este sorvete para poder cuidar da minha mãe doente e dos meus quatro irmãos que estão em casa passando fome. Não estou roubando, apenas pedindo a sua colaboração...



  2. Para chegarmos em Munique tivemos que pegar um trem. Tranqüilo, certo? Errado! O carinha que vendia a passagem não sabia nem se O ó tem som de u. Por meio de mímicas e desenhos num pedaço de papel conseguimos as passagens. O difícil foi entender que o trem chegaria na plataforma 44... Àquela altura do campeonato, nós já sabíamos que gleis era plataforma, mas olhando para fora da bilheteria nós só víamos as plataformas 1, 2 e 3. Por dedução achamos que a próxima seria a 4. Mas não. Lá em Bingen, depois do 3 vem o 44! Pior que isso só mesmo a plataforma 9 ¾ de Kings Cross.



  3. Aqui na Europa há várias companhias aéreas que oferecem vôos baratos, algo como a Gol aí no Brasil. O único porém é que os aviões geralmente decolam e pousam em aeroportos nos arredores das cidades grandes. Por exemplo, o nosso vôo de Londres para Frankfurt não parava em Frankfurt, mas sim em Hann, uma cidade que não tem nada além do aeroporto e que por sua vez é menor do que a rodoviária de São João da Boa Vista. Mas o mais engraçado mesmo foi quando pedimos para a mocinha da Ryan Air uma daquelas etiquetas em que escrevemos o nosso nome, telefone e endereço. Sabe o que recebemos? Náin! Não, ela não deu nove, que em inglês se fala nine... ela deu um sonoro nein mesmo! Deixa, eu nem queria mesmo >:(

Agora algumas coisas daqui de Londres mesmo. Afinal, férias é bom, mas dura pouco :(

Descascando a banana e viajando pro espaço

Neste imenso GAP entre a última coluna e esta adquiri dois otimos CDs que merecem um capítulo à parte. São eles Velvet & Nico (Velvet Undergound) e Ziggy Stardust (David Bowie). Caramba, é difícil acreditar que passei tanto tempo sem ter estes dois discos na minha discoteca! Se você também tem esta lacuna, vá agora para a sua loja de importados ou reze para as edições remasterizadas saírem aí no Brasil.

Rio de Dinheiro

O jogador inglês Rio Ferdinand, zagueiro da seleção daqui na Copa, foi contratado pelo Manchester United pela singela quantia de £30 milhoes, o que em Reais, dá uns 140 milhões!!! Foi a transferência mais cara da história do futebol bretão. Infelizmente esta notícia não vai fazer o dólar voltar a cair, mas é tanto dinheiro que eu tinha que falar do assunto.

The Wooden Face

A edição deste mês da revista muderna The Face traz na capa The Strokes e outras 40 novas bandas que devem mudar a história do Rock ‘n Roll. Achei muita cara de pau eles colocarem o Strokes na capa. Faz um tempão que eles deixaram de ser uma aposta, mas o pior mesmo é que a lista deles tem várias bandas que nós destacamos no Especial do Dia Mundial do Rock. Acho que eles estão lendo o Omelete :P

Dica das boa

Por falar no tal Especial, lembrei que um dos destaques foi a banda australiana The Vines e que a Xfm colocou em seu site (www.xfm.co.uk) o show inteiro dos caras, com vídeo e tudo! Entre agora e confira porque os caras são tão festejados. Enquanto termino esta coluna, estou ouvindo a balada Mary Jane :)

É Grande, mas não é três!

Uma noticia sobre os bastidores de Hollywood que não pode passar em branco. Nada menos do que três diretores correm contra o tempo para realizar filmes sobre Alexandre, o Grande. E não é brincadeira de peixe pequeno. Estamos falando de Martin Scorcese, Oliver Stone e Baz Luhrman. Será que o cara era tão grande assim?

Pode correr sem medo!

Esta semana finalmente conseguimos um tempinho para ver Minority Report, que no Brasil vai receber o subtítulo de A Nova Lei. O filme, para quem chegou ontem da Sibéria, se passa em 2054 e conta com Tom Cruise no papel principal e Steven Spielberg na cadeira de diretor. Ficção científica de primeira qualidade!

Beijos, abraços e até a próxima!

Mariana Della Barba e Marcelo Forlani, de Londres

Se quiser entrar em contato, envie e-mails para gap@omelete.com.br

P.S. Mind the Gap eh a frase que mais se ouve no metro londrino. Don’t Mind the Gap eh a coluna que vai ser publicado nas semana não do London Arena, para tentar cobrir o vazio (gap em inglês) e amenizar o martírio que é esperar o próximo Feijoada x Fish & Chips. Ou nao ;-)