Do digital ao real: como se faz uma sala de escape game?

Resident Evil é inspiração para sala em São Paulo onde é preciso resolver enigmas para escapar

Por Bruno Silva 16.09.2016 18H52

Os jogos de escape room, no qual você deve sair de um local em um determinado tempo, representam um raro caso de gênero que transcendeu a barreira entre o digital e o analógico. Sucesso nos smartphones e em navegadores, em títulos como The Room, a moda passou para o mundo real - só em São Paulo, já são pelo menos 25 salas temáticas com este tipo de experiência.

Ilustração da sala Inverso do Universo, da Puzzle Room

Mas os escape games reais e digitais têm em algo em comum além de sua popularidade? Existe alguma similaridade em sua elaboração? “Um pouco. O propósito é similar, mas quando se fala no escape game do mundo real, criamos as salas pensando que um grupo de pessoas irá desafiá-la e os enigmas e efeitos no mundo digital são mais fáceis de serem criados do que em um ambiente real e interativo”, diz Rodrigo Matrone, game designer e sócio do Puzzle Room no Brasil.

Rodrigo Matrone, game
designer e sócio do
Puzzle Room no Brasil

Criada em 2014 na República Tcheca, a empresa se expandiu para a Suíça e para o Brasil, onde existem duas unidades. A empresa desenvolve todos os seus jogos com uma equipe local, inspirada em cenários como a antiga penitenciária do Carandiru, em São Paulo. Aqui, mais de 15 jogos já foram desenvolvidos e alguns ainda serão lançados.

A elaboração destes jogos, normalmente, consistem em mistérios interconectados e espalhados pela sala - solucionar um leva ao próximo, até chegar ao final. Mas nem sempre é fácil desvendá-los. “Algumas pessoas ficam ao menos 10 minutos só imaginando como seria estar preso em uma cela de um presídio brasileiro. Isso acontece em função da profundidade, inteligência e coerência que conseguimos colocar nas etapas dos jogos”, diz Matrone.

A maior diferença entre a elaboração de um escape game virtual para o real, claro, é o cenário, já que as salas presenciais promovem uma experiência lúdica. “O jeito de pensar cada enigma é um processo complexo e nada fácil”, explica o game designer. Cada sala leva de 2 a 3 meses para ser elaborada, dependendo do tema.

Nos jogos de escape presenciais, este profissional é responsável por encabeçar o projeto e definir a mecânica do jogo, tomando cuidado com elementos como balanceamento, detalhes do roteiro, história, tecnologia e cenário. “O processo de criação é feito por uma junção de conhecimentos e referências, e cada jogo é modelado de um jeito. Há jogos que começamos pelo final e outros pelo nome da sala. Mas só após uma boa fase de testes é que o jogo está pronto para ser lançado”, detalha Matrone.

Durante a experiência, a diversão é importante para os jogadores, mas o especialista diz que a interação precisa ser intuitiva e engajadora, com aspectos técnicos que não são colocados em um jogo digital. “Todos os envolvidos na criação entendem de tudo um pouco. Games digitais, marcenaria, eletrônica, robótica e muito conhecimento geral, além de curiosidade sobre materiais e reações”, enumera Matrone, revelando que as salas envolvem tecnologias como sensores e microprocessadores.

Entretanto, os jogos digitais servem de referência - Matrone diz que já utilizou elementos de Resident Evil para compor salas. “Mas o principal é entender o negócio e saber o que realmente as pessoas estão buscando”, ressalta.