Sunset Overdrive | Crítica

Um dos melhores exclusivos da nova geração

Por Thiago Romariz 08.11.2014 17H55

Sunset Overdrive carrega os clichês de todos os jogos de mundo aberto. Repetição de missões, evolução gradual de armas e habilidades, customização de visual e missões secundárias espalhadas pelo mapa. O trunfo principal do novo trabalho da Insomniac Games (Ratchet & Clank), porém, está em tornar todos esses aspectos em um conjunto que, se não é inédito, ao menos é divertido e bem executado. E mais importante: consegue rir de si mesmo e conversar com o jogador como poucos títulos conseguem.

A intenção de Sunset é inserir o espectador não só pela jogaibilidade simples e pelo colorido de suas explosões. O negócio aqui é conversar diretamente com quem segura o controle, quebrar a "quarta parede". A partir de referências (Breaking Bad, Apocalypse Now) e piadas que julgam o desempenho do jogador, a experiência se torna algo diferenciado, sem obrigatoriamente explorar o potencial tecnológico do Xbox One. O texto cômico e despreocupação com qualquer estrutura narrativa faz desse um dos melhores games da primeira leva de exclusivos da nova geração de consoles.

O roteiro de Sunset é guiado por um vírus que transforma em mutantes todo ser que bebe um energético. A partir daí, na pele de um lixeiro que pode ser personalizado por inteiro, começa uma jornada para "limpar" a cidade. Ninguém se preocupa com os pormenores ou com as motivações por trás do desastre. Não a princípio. Esse não é o objetivo. Assim, premissa estabelecida, as convenções de heroísmo e politicamente correto são jogadas de lado e a história dá lugar à simples e pura construção do personagem "Sunset Overdrive".

A maior preocupação (e êxito) do título é criar uma identidade que o diferencie da maioria dos outros jogos de mundo aberto, e para isso ele aposta em uma arte cartunesca e no humor escatológico, gráfico. É como se a Seattle de inFamous acordasse de uma viagem de drogas sintéticas, começasse a fazer piadas constantes como a série Grand Theft Auto no meio de um ambiente alienígena que lembra Marte Ataca!, de Tim Burton. Sunset Overdrive é divertido e aleatório nesse nível.

Não é somente o ritmo dos diálogos que tornam o jogo diferente. Os controles são parte primordial, e talvez a mais importante de todas. Tudo é baseado no sistema de grind, o deslizamento pelas cordas, fios elétricos e canos da cidade. Muito parecido com a renomada série Tony Hawk's Pro Skater. Também é possível escalar e andar pelas paredes. Isso tudo é inserido dentro da movimentação, que é o cerne de toda a diversão, pois Sunset força o jogador e correr, lutar e explorar os ambientes sempre se mexendo. Nada pode ficar parado. Na verdade, nada precisa ficar parado.

A impressão inicial é de confusão e dificuldade de conciliar as lutas com esse frenesi. A solução da Insomniac para tal problema foi diminuir a velocidade nos momentos de tiroteio e forçar o aprendizado de todas as mecânicas ao mesmo tempo em que se faz o grind. Em cima dos canos é possível usar de bazucas a tacos de beisebol, tudo de forma simples e rápida. A quantidade de inimigos é propositalmente enorme, pois as lutas terminam tão rápido quanto começam. Por isso, Sunset está infestado de mutantes o tempo inteiro, algo que torna o jogo vivo e sempre ativo.

As virtudes diminuem, mas não apagam a quantidade excessiva de missões iguais, principalmente as secundárias. Colher itens, matar em tempo limite e outros modelos conhecidos do gênero são repetidos e cansam pouco antes da campanha principal terminar. Por outro lado, boa parte das missões principais são focadas explorar os momentos de plataforma. O combate com o boneco gigante do energético e a missão das duas torres são bons exemplos, que depois são modificados em outros objetivos. Dessa forma, por mais que a fórmula se repita, as poucas diferenças fazem com que as coisas pareçam novas (a luta com dragão e a fase do barco, por exemplo). O mesmo ocorre no multiplayer, que replica boa parte das passagens da campanha principal, mas renova tudo com a interação entre amigos.

Não existe nenhuma invenção mirabolante em Sunset Overdrive. Esse exclusivo do Xbox One é focado em divertir e fazer as horas passarem para o jogador com bom humor e alguns desafios. O multiplayer prolonga o entretenimento, assim como a customização dos personagens. Tendo em mente a fluidez dos controles e um texto fora do corriqueiro, a Insomniac fez um dos jogos mais divertidos do ano - e um dos exclusivos mais importantes da geração.

Nota do crítico