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ReCore | Crítica

União dos criadores de Mega Man e Metroid Prime se iguala no prazer e na frustração

Por Bruno Silva 12.09.2016 12H09

Existe uma fase opcional nas primeiras horas de ReCore que explica o jogo de forma sucinta. A área em questão se chama Corrida da Caverna, um curto e bem projetado segmento no qual é necessário saltar por diversas plataformas em um grau crescente de dificuldade: primeiro elas ficam paradas, depois passam a se mexer e, por fim, são intercaladas por paredes de energia.

Além de terminar o percurso, você garante recompensas extras completando objetivos secundários: uma por passar da fase em menos de 3 minutos, uma por atirar em oito alvos colados nas paredes (e longe do caminho), uma por achar uma esfera amarela escondida, e um último por completar tudo isso numa corrida só.

A proposta é bem clara: completar esta fase requer que você a jogue mais de uma vez, já que você precisa encontrar todos os itens e descobrir a melhor maneira de passar pelas plataformas com rapidez. Esta fase é relativamente simples e um tanto breve, mas tem sua vida útil estendida por objetos posicionados com inteligência e um contador que leva ao limite as habilidades do jogador dentro do percurso.

ReCore, o novo jogo de Keiji Inafune, o criador de Mega Man, e do Armature Studios, composto por ex-desenvolvedores de Metroid Prime, é basicamente isso: uma breve e relativamente simples aventura muito boa de ser jogada, mas desnecessariamente esticada ao máximo por uma constante exigência em revisitar locais.

O melhor de dois mundos

À primeira vista, o título publicado pela Microsoft é uma combinação lógica do que consagrou os seus criadores: de um lado, Inafune traz mais uma aventura com robôs que ganham força com itens e inimigos - ainda que o personagem controlado pelo jogador seja humano. Do outro lado, o Armature remodela, com um certo grau de fidelidade, os conceitos do cultuado título do game designer japonês em um ambiente tridimensional.

Este ambiente é Éden Distante, um planeta tomado por areia e tempestades no qual a humanidade apostou sua sobrevivência enviando batalhões de máquinas controladas por robôs e um punhado de agentes de manutenção, que alternam seu sono criogênico para se certificar de que as coisas estavam indo bem. A protagonista Joule Adams acorda e vê que nada saiu como planejado: os robôs se rebelaram misteriosamente e as máquinas foram destruídas.

Neste ambiente desértico e repleto de pistas sobre o que aconteceu nestes anos de animação suspensa da protagonista, há uma aventura cuja qualidade se baseia em características familiares olhos e às mãos. Como o próprio Mega Man, ReCore é em sua essência um jogo de pular e atirar, e ambas as ações são executadas com uma simplicidade muito competente.

O combate, construído ao redor de um sistema de mira que trava ao se aproximar do inimigo, permite que você lide com diversos oponentes sem deixar de se movimentar e cria uma ação de ritmo rápido, descomplicado e agradável. Da parte de Joule, a complexidade dos combates se limita a combinar a cor do raio com a do inimigo: tiros azuis para robôs azuis, disparos vermelhos para oponentes vermelhos, e por aí vai.

A movimentação vai no mesmo caminho, com plataformas que aproveitam a vastidão dos desertos de Éden Distante para criar bons desafios com dois comandos simples: pulo duplo e dash. Algumas plataformas são bloqueadas por barreiras, outras “renovam” suas habilidades no meio do ar, permitindo combinações inteligentes de locomoção e criação de fases.

Eu e meu robô

Ao seu lado, está uma equipe de robôs, da qual você seleciona dois, para o acompanhar e ajudar tanto nas lutas quanto na exploração de Éden Distante. O primeiro é o adorável e carismático cão Mack, ágil nas lutas e capaz de achar coisas no chão. Em seguida, vêm o aracnídeo Seth, que pode escalar estruturas especiais, adicionando mais uma camada de complexidade à locomoção, e o simiesco Duncan, que destrói barreiras e lida com os inimigos na base da força bruta.

Em torno destes robôs é construído todo o sistema de itens do jogo. Cada inimigo têm em seu interior um núcleo cuja cor é ligada a um atributo de seu companheiro: vermelho, amarelo e azul aprimoram ataque, defesa e energia, respectivamente. Para conseguir o núcleo, é preciso jogar um mini-game no qual você o puxa do centro do robô utilizando uma corda, puxando o analógico com cuidado para não arrebentar a ligação.

Cada robô pode ter suas partes trocadas, o que também melhora ataque, defesa e energia. Para conseguir isso, é preciso obter primeiro a “planta” de fabricação da parte, e depois coletar as peças, tanto no cenário quanto destruindo inimigos com tiros. Ou seja, há dois métodos para derrotar os inimigos, e cada um dá uma recompensa diferente - a repetição é a fonte do aprimoramento.

Pular, atirar, coletar, repetir

O mundo de ReCore não é muito grande, mas passa a sensação de ser - parte pela enorme escala das estruturas de colonização do planeta, parte pela distância relativamente entre um ponto e outro. Assim como em Metroid, retornar a áreas do começo do jogo com os equipamentos do final abre novas possibilidades de exploração e, com isso, garante itens mais fortes.

O problema começa quando essa exigência de retornar por onde você já passou deixa de ser opcional e se torna obrigatória. Desbloquear áreas principais de Éden Distante requer núcleos prismáticos, esferas multicoloridas e brilhantes que contém uma fonte de energia aparentemente ilimitada. Só que, em um determinado ponto, a coleta destes itens deixa de ser integrada à história principal e o jogo pede que você retorne a lugares onde já foi para conseguí-los.

É uma tática para esticar a duração da aventura principal, mas as horas de gameplay a mais tendem a se tornar monótonas - e, em consequência, os atos de pular, atirar e coletar ficam igualmente monótonos.

Não bastasse a estratégia seja rasteira por si só, é nessas horas que se revelam os maiores defeitos de ReCore. Os pontos de interesse da aventura principal são marcados por ícones verdes que indicam o caminho, mas não há como colocá-los no mapa por conta própria. Esse tipo de navegação contraintuitivo pede que você pare sempre a aventura para olhar o que está no mapa, ou utilize o sistema de viagem rápida - e, para cada troca de cenário, vem uma tela de carregamento.

O jogo tem telas de carregamento estranhamente longas para o tamanho da aventura. Abrir um cenário grande como a Baía Solitária pode levar até mais de dois minutos. Some isso à necessidade de ficar retornando a locais que você já visitou - e à sua base, que é o único local onde se pode aprimorar seus robôs companheiros -, e você tem uma combinação desagradável de tédio e espera.

ReCore tem excelentes mecânicas, mas Inafune e a Armature confiaram que apenas elas seriam o suficiente para prender a atenção do jogador, e claramente faltou uma estruturação melhor do jogo de modo a nos manter interessados do meio para o fim da aventura.

O que é uma pena, pois ReCore é um jogo muito bom de se jogar.

ReCore será lançado em 13 de setembro para Xbox One e PC (Windows 10), e pode ser jogado em ambas as plataformas com apenas uma compra. O jogo foi testado em um Xbox One. Clique no nome das plataformas para ver o preço do jogo em suas versões digitais.

Nota do crítico