Rayman Legends | Crítica

Pequenos detalhes compõem um dos melhores jogos de plataforma da geração atual

Por Míriam Castro 15.09.2013 00H00

Rayman Legends foi anunciado em 2012 como um dos títulos de lançamento do Wii U. A Ubisoft desistiu da exclusividade e atrasou o lançamento do game em quase um ano. Felizmente, o resultado valeu cada mês de espera: a aventura do personagem francês está entre os melhores jogos de plataforma dos últimos anos.

A história é quase inexistente, mas neste caso isso não é demérito. Legends tem foco quase total na jogabilidade e combina com o enredo ingênuo do herói que dormiu por quase cem anos e tem que salvar Teensies – criaturas azuis espalhadas pelas fases. Com games atuais criando histórias cada vez mais megalomaníacas e nem sempre bem articuladas, é interessante ver uma boa obra com premissas simples.

Por isso, o enredo é maleável a ponto de permitir maluquices que refrescam a experiência. Em certo momento, Rayman é transformado em um pato sem motivo algum – por que não? Funis encolhem e aumentam o herói para permitir passeios no meio de buracos formados em frutas. As batalhas têm um clima leve graças à trilha sonora criativa e irreverente. Um dos chefes, um luchador mexicano, tem música-tema mariachi com um coro dizendo seu nome de forma cômica.

Cada pequena bizarrice encontrada no jogo torna a experiência mais divertida. De fato, Legends preza pelos detalhes. Cada vez que um caminho oculto é descoberto, vozes ao fundo fazem “oh!”. Alguns Teensies resgatados dão um beijo na bochecha do herói como agradecimento. No fim de quase todas as fases, os amigos salvos esperam Rayman tocando instrumentos musicais como em uma festa. São coisas quase insignificantes, mas que recompensam e geram afeição pela obra.

Não faltam maneiras de recompensar o jogador. Atingir pontuações razoáveis dá direito a raspadinhas de loteria. Estas, por sua vez, dão acesso a criaturinhas colecionáveis (divididas em categorias malucas como torradas, sapos, robôs e balões), lums – seres luminosos que são usados para liberar personagens jogáveis –, e até níveis extras. Das mais de 120 fases do game, 40 são versões remasterizadas do material de Rayman Origins.

As pequenas recompensas são distribuídas frequentemente. Outra maneira interessante de manter o jogador interessado são as versões “invadidas”, ou seja, modificadas das fases já visitadas. Estes modos são mais desafiadores que os níveis originais.

Na jogabilidade, são perceptíveis as características deixadas por Origins, com controles simples e precisos. A Ubisoft conseguiu deixar tudo ainda mais fluido com um design de fases impecável. A curva de aprendizado é quase imperceptível e não há tutoriais incômodos. Os jogadores que tiverem dificuldades encontrarão uma discreta mensagem na tela lembrando qual é o botão necessário para determinadas ações.

Como a ideia original era de fazer um game para o Wii U, Rayman Legends tem um uso interessante da tela de toque. Em diversas fases, Rayman é auxiliado pelo amigo Murfy, que move plataformas, ativa alavancas e espalha imensas quantidades de guacamole para conter rios de lava (!). O ideal é que este personagem seja controlado por um segundo jogador usando o GamePad. Quando isto não é possível, a versão da Nintendo coloca o jogador na pele de Murfy enquanto o protagonista se move com inteligência artificial. Isto pode truncar a jogabilidade, pois acontece frequentemente. Nas versões para outros consoles, as ações do auxiliar são realizadas ao apertar um botão. É mais desafiador, já que é necessário ter precisão ao controlar dois personagens.

Qualquer fase pode ser terminada no modo cooperativo, já que até quatro jogadores podem percorrer o cenário ao mesmo tempo. Além dos tradicionais Rayman e Globox, heróis são liberados depois que certo número de lums é adquirido. É interessante a possibilidade de jogar com personagens femininas, principalmente a inédita Barbara, que usa um ameaçador machado e voa com as asas de seu capacete. Se o jogador não simpatizar com Rayman, não precisa usá-lo após as primeiras fases; basta escolher outro protagonista na galeria de heróis.

Rayman Legends não pode ser considerado difícil, já que tenta apelar a todas as audiências. Mas consegue ser desafiador com as fases extras, principalmente as “invadidas”. Nos circuitos comuns, não é preciso vasculhar muito para encontrar um Teensie. Isto acontece porque, muito mais do que exploração, o game é sobre precisão nos controles e bom timing. Em nenhuma parte isto fica mais claro do que nas fases musicais ao fim de cada mundo. Ao som de ritmos como rock ou música erudita, é preciso fazer os movimentos corretos de acordo com a melodia. Para terminar uma absurda “Eye of the Tiger” em versão mariachi, por exemplo, o jogador tem que acertar as caveiras mexicanas no momento exato enquanto salta.

Com design de fases inteligente, belos cenários e música contagiante, Rayman Legends consegue melhorar o que havia de bom em seu antecessor, Origins. Por cima de uma base sólida que, por si só, já constituiria um bom game, pequenos detalhes tornam a obra da Ubisoft indispensável. Se dizem que os últimos respiros de uma geração de consoles trazem alguns dos melhores títulos, este jogo é um belo exemplo.

Nota do crítico