Borgorragia IV - Uma nova esperança

Borgorragia IV - Uma nova esperança

Por Érico Borgo 20.07.2002 00H00

Coluna nova... tecnologia nova!! Comprei um aparelhinho digital para gravar algumas idéias que tenho para a coluna. Pois é. O chato até agora tem sido lembrar de carregar o maldito comigo! Mesmo assim, as duas vezes em que não o deixei em casa renderam tópicos, errr... digamos, interessantes. De que outra forma, eu me recordaria do incidente que quase me fez trombar o carro e mudou meu gosto por roupas íntimas?

Cervídeos na marginal do Tietê

Aqui em São Paulo temos um rio moribundo sobre o qual, aposto, você já estudou na escola. O rio Tietê possui em suas margens largas avenidas, as chamadas Marginais. São aquelas que, pelo menos alguns dias por ano, garantem sua presença nos noticiários quando se alagam e tornam a vida dos paulistanos um inferno ainda maior.

Nas últimas semanas, há obras em toda a extensão dessas vias expressas. São dezenas de tratores, caminhões e operários cavando e fuçando no rio, cujas únicas formas de vida existentes seriam os coliformes fecais se estes já não tivessem sido extintos por dejetos industriais e baixa oxigenização. Imagine, então, minha surpresa quando me deparo, em plena hora do rush, com uma placa de trânsito que dizia CUIDADO! Animais na pista, ilustrada com um belo e serelepe exemplar de cervídeo (um veado, alce ou coisa do gênero). Já pensou? Um cervo atravessando a marginal do Tietê? No mínimo, deveriam ter colocado uma placa com um jacaré (Lembra-se dele?).

O inusitado, porém, explicação. Acredite se quiser, o matagal às margens do rio oculta famílias de capivaras! Nada a ver com veadinhos, mas, ao menos, são mais silvícolas do que os cães vira-latas que vagam pela cidade. Suponho que, agora desabrigados, os pobres animais devem ter buscado abrigo nas favelas da região. Todavia, com o aluguel barraco pela hora da morte, não estranhe se der de cara, nas esquinas da cidade, com uma capivara vendendo saquinho de balas grampeados com o papelzinho: Sou uma capivara de família. Estou vendendo estas balas para alimentar meus filhotes. Pelo menos, não estou roubando...

Samba-canção, nunca mais

Há alguns anos, usar cueca samba-canção era coisa de tiozão. Quem não queria se encaixar na categoria era forçado a aceitar, sem direito a contestação, a ditadura da cuequinha Zorba (mais tarde passou a ser chamada de slim, mas, naquela época, era só cueca mesmo).

Na última década, lentamente, os mais jovens foram apresentados às samba-canção. Bem mais confortáveis, não apertam na virilha etc. Tomado pela novidade, praticamente troquei minha gaveta de roupas íntimas pelas novas vestimentas, finalmente aceitas pelo mundo da moda e - mais importante - pelas garotas.

Entretanto, com o tempo, comecei a notar os inconvenientes de usar uma vestimenta larga demais nos países baixos. A gota d’água aconteceu semana passada, quando, em pleno trânsito, fui fisgado pelo tecido extra enquanto buscava um CD no porta-luvas. Cego pela dor, por pouco não perdi o controle do carro enquanto tratava de me desvencilhar de meu algoz 100% algodão.

Decidi então que era hora de buscar outra espécie de roupa íntima - os boxer shorts.

Eu já vinha experimentando havia algum tempo diversos tipos de cuecas boxer, algumas até que com resultado bastante positivo... mas a revelação divina veio mesmo na forma de um modelo novo, passado a mim pelas mãos da vendedora quase como as tábuas da lei chegaram a Moisés (eu fugi do catecismo, mas assisti a Os dez mandamentos).

Sem costura, com lycra e microfibra, a tal cueca, intitulada Scala Uomo (veja aqui), é um triunfo da tecnologia moderna. Molda-se ao corpo, exerce pressão nos pontos certos e deixa folgados os estratégicos. Enfim, abaixo a Zorba e a Mash! O futuro à Scala pertence! Pelo menos, até que a próxima cyber-cueca seja inventada...

Rapa na Via Lettera

Recentemente, fui à editora do meu sócio aqui no Omelete, o Jotapê Martins.

Fazia algum tempo que eu não pintava por lá. Por isso, saí da Via Lettera com uma caixa de livros. Como são muitos, optei por fazer uma mini-resenha por coluna. Pra começar, claro, o mais recente.

Se você leu a minha mega-matéria sobre O poderoso chefão, deve ter percebido que o filme é, de longe, o meu favorito. Sendo assim, mal posso esperar pela estréia por aqui de Estrada para Perdição, outra película sobre crime organizado, honra e vingança. Como se não bastasse, a produção é baseada na história em quadrinhos de Max Allan Collins, cujo primeiro volume eu capturei lá na Via Lettera. Máfia em quadrinhos? É pra já!

Com arte detalhada, entregue embalada em ângulos e seqüências que praticamente pedem para serem registradas em película, é fácil entender porque Steven Spielberg enviou a HQ para que Tom Hanks a lesse. O livro tem tudo o que há de mais empolgante nos bons filmes de Máfia, além de uma pitada de Lobo Solitário, o melhor mangá de todos os tempos. A diferença é que aqui, o filhote fala e questiona as ações de seu pai, abrindo caminho para diversos níveis de discussões de relacionamento pai e filho.

Mal posso esperar para ler a parte final (a segunda eu li num arquivo PDF) e assistir ao filme. Tenho um ótimo pressentimento.

Vôlei feminino X Futebol

O noticiário de hoje exaltou a série de vitórias consecutivas da seleção feminina de vôlei. Isso me lembrou o quanto me empolgam tais partidas. Garotas curvilíneas de shorts apertadinhos abraçando-se dezenas de vezes por partida em comemoração aos pontos... ah... como diabos ESSE não é o esporte favorito do país?!?!?!

Mas não... a preferência é mesmo pelos caras suados, cuspindo no campo, correndo atrás de uma bola.

Realmente, um mistério.

Guia Borgorrágico do garimpeiro de locadoras

Havia mais de vinte filmes pra comentar, mas como o tempo é curto, deixei apenas os melhores (e os piores), separados por categorias (já explicadas, aqui):

Primeiro, a nova categoria:

Já vi, mas a minha namorada não, portanto, vi novamente.

A última tentação de Cristo (The last temptation of Christ, 1988) - Já assisti umas quatro ou cinco vezes e não me canso. Willem Dafoe, o Duende Verde do filme do Aranha, em sua melhor atuação, acompanhado do genial Harvey Keitel, trilha sonora maravilhosa de Peter Gabriel e direção inspirada de Martin Scorcese. O que mais você quer? Deixa que eu mesmo respondo... que seja lançado logo o DVD!!!

Cubo (Cube, 1997) - Um único cenário, meia dúzia de atores, complicadas teorias matemáticas, um só figurino e um roteiro genial. Esta é a fórmula de Cubo, produção canadense que ganhou diversos prêmios em festivais de cinema fantástico. Se você ainda não viu, procure nas locadoras. Não conheço alma viva que não tenha gostado.

Deixei pra vídeo (e com razão)

Jason X (idem, 2002) - Nossa... não sei porque continuo assistindo a essas tranqueiras. Deve ser pelo mesmo motivo que, quando aparece uma MAD na minha mão, eu leio, mesmo ficando com náuseas no final. Serei um masoquista?

As criaturas atrás das paredes (The people under the stairs, 1991) - Este filme dirigido pelo mestre Wes Craven saiu recentemente em DVD. Como nunca tinha visto, resolvi dar uma chance. Até a metade, ele vai bem; depois, só mesmo em velocidade acelerada (já disse que costumo fazer isso quando o filme não presta?).

Avassaladoras (2002) - Juro que dei uma chance ao filme. Tentei esquecer as péssimas críticas, manter-me neutro. Não teve jeito. Absolutamente constrangedor (só não é pior que Alô?!, outro filme da diretora). Atuações forçadas, direção cópia carbono de comédias românticas de sucesso. Como único bom momento, uma cena no apartamento do garanhão Thiago (Reynaldo Gianecchini), em que a câmera entra numa espécie de looping, revelando o mesmo ambiente durante várias noites distintas.

Os garotos de minha vida (Riding in cars with boys, 2001) - Só mesmo a atriz principal, Drew Barrymore, para produzir este filme. Caso contrário, nenhum investidor encararia a bagaça. Um filme para meninas tão chato que nem elas agüentam.

Agora a categoria perdi no cinema; tive que esperar sair em vídeo

Bufo & Spallanzani (2002) - Para que ninguém diga que não sei apreciar o cinema nacional, no mesmo fim de semana em que detestei Avassaladoras, adorei Bufo & Spallanzani! Em meio a crimes, violência e suspense, o livro homônimo de Rubem Fonseca é muito bem retratado nas telonas pelo diretor estreante (e promissor) Flávio Tambellini, que digamos, tem colhões para mostrar o que deve (assista ao filme e entenda).

A língua das mariposas (La lengua de las mariposas, 1999) - o filme é meio velhinho, mas só agora saiu em DVD. Trata-se de uma bela história sobre crescimento em meio ao caos de um país à beira de uma guerra civil. Se filmes europeus não aborrecem você, é uma ótima pedida. Caso contrário, nem tente.

Trapaceiros (Small time crooks, 2000) - Pra você ter uma idéia do prestígio que goza o ótimo Woody Allen por aqui, seus filmes sempre são lançados com um ou dois anos de atraso, além de serem desprezados pelos donos de locadoras. Quando tirei o lançamento da prateleira até o balcão, o dono do lugar disse exatamente isso: Onde você achou isso??? Eu não pedi essa b*st*!!! Foi o desgraçado do vendedor que empurrou sem eu perceber. Sentiu o drama? O filme, como fiz questão de esfregar na cara dele depois, é muito bom.

Tá todo mundo louco (Rat race, 2001) - Não dava nada por essa fita... mas como ela sobrou numa noite de sábado na prateleira, acabei alugando. Não é que foi engraçado pacas? Ri do início ao fim! Se é uma comédia besteirol o que você está procurando, pode ir sem medo.

American Pie 2 (2001) - Depois de terem conseguido sua Primeira noite de um homem, os amigos de American Pie entraram na faculdade - e continuam não comendo ninguém. Praticamente idêntico ao primeiro e tão divertido quanto.

Esta semana não vou falar sobre os quadrinhos do mês ou os filmes em cartaz. A coluna ficou enorme. Prometo garantir a periodicidade quinzenal da Borgorragia e, com isso, fazer colunas mais digestivas. Até a próxima!

[]´s

Érico Borgo