BGS 2016 | For Honor pode virar um eSport, só depende do público, diz Ubisoft

Entrevistamos Bio Jade, uma das desenvolvedoras do game

Por Arthur Eloi 03.09.2016 15H15

Com uma das maiores filas do evento, For Honor atrai o público da Brasil Game Show 2016 com seu combate visceral dividido entre oito estações de consoles. Aproveitamos o momento para entrevistar Bio Jade Granger, a game designer por trás da grande aposta da Ubisoft para 2017 que nos falou um pouco sobre as mecânicas, a campanha, eSports e mulheres na indústria de games.

O que você pode me dizer sobre For Honor?

É um jogo onde você pode jogar com 12 personagens diferentes entre vikings, samurais ou cavaleiros. Seu foco é artes marciais, e cada herói luta com estilo diferente. Queriamos traduzir isso para a jogabilidade, então seu análogico direito sempre define onde sua arma está. É algo visceral onde você tem que observar o posicionamento do seu inimigo, o peso de seu equipamento e qualquer ação que você vá tomar porque não dá para sair correndo com um louco. Cada movimento tem que significar alguma coisa, seja atacando, defendendo, desviando ou empurrando. Todas as decisões são importantes em For Honor.

Ainda sim queremos incluir o maior número de jogadores o possível, por isso temos uma campanha single-player com foco na narrativa e cinco modos de jogo que podem ser jogados contra o computador. Dessa forma o melhor jogador pode brilhar no multiplayer e o mais casual pode ser divertir na campanha, praticando com a inteligência artificial até poder combater os mais experientes. Nosso sistema é profundo mais compreensível, as pessoas aprendem a joga-lo após umas três partidas. Há combos e movimentos especiais, mas o básico que você precisa saber é atacar e defender.

Você falou sobre o ponto central das mecânicas - atacar e defender - mas também mencionou heróis. Como eles interagem entre si?

Apesar de compartilharem das ideias básicas, cada personagem é diferente. Pegue o Assassino, por exemplo. Sua habilidade é esconder seu movimento até o último segundo, porém sua defensa requer muito mais precisão e timing do que os demais. Alguns outros impedem todos os ataques mas perdem energia a cada golpe. Também há combos, como é o caso de um cavaleiro híbrido que carrega uma enorme alabarda, capaz de pinçar um inimigo e joga-lo nas suas costas. Isso se torna um ataque muito poderoso no cooperativo quando se tem um amigo para continuar atacando a vítima imobilizada. A progressão também é atribuída à cada personagem, então no final das partidas você receberá itens cosméticos para customiza-los da forma que quiser.

O game conta com samurais, vikings e cavaleiros. Como vocês chegaram nessa ambientação? Há uma explicação para essa junção de guerreiros?

Essa é uma ótima pergunta. O importante é entender que escolhemos essas três facções porque são as que vêm em mente quando pensamos em guerreiros lendários, elas são especiais. No desenvolvimento nós temos uma teória de que todo mundo sabe, mesmo que lá no fundo, se é um viking, cavaleiro ou samurai. As pessoas só sabem, não há explicação. É divertido ver que o público realmente tem respostas para essa pergunta. Então quisemos criar um mundo para colocar esses três para lutar porque eles nunca se enfrentaram.

Pense como se a Era das Trevas nunca tivesse acabado, e os lutadores aperfeiçoaram a arte da guerra a um ponto tão brutal e visceral que o mundo entra uma espécie de colapso. É o que você verá na história single-player, onde explicamos a razão da união desses três tipos.

Tudo que ouvimos sobre For Honor até o momento foi altamente focado em mecânicas e jogabilidade, mas vocês também estão fazendo uma campanha. Você pode explicar um pouco mais sobre seu funcionamento?

O modo história - que também pode ser jogado de forma cooperativa - te coloca numa guerra contra Apoleon, a vilã principal do game. Você entenderá o motivo por trás do combate e quais as razões de Apoleon ter traído os guerreiros e ter criado esse caos todo que você vê no multiplayer. Não quero te falar da história pois não quero dar spoilers mas o jogador testará todos os grupos e visitará cenários tradicionais de cada um deles, como guarnições samurais, acampamentos vikings e castelos colossais.

O legal é que quando você joga contra toneladas de NPCs no single-player, é uma experiência completamente diferente do multiplayer com as mesmas mecânicas. Chegamos em um ponto onde temos duas experiências muito diferentes, e a história é ótimo.

A Ubisoft teve uma forte presença no cenário competitivo com Rainbow Six: Siege. Já que For Honor é um jogo baseado nesse PVP profundo, você acha que o jogo funcionaria como um eSport?

É uma boa pergunta, sempre a recebo e me importo bastante com isso por ser responsável pelos modos de jogo e balanceamento. O foco aqui é ser competitivo, claro. É totalmente uma questão de habilidade, é apenas você e sua arma. Infelizmente eu não escolho se o jogo dará um bom eSport, isso é algo que a comunidade decidirá por nós. Desde o começo tentamos ouvir o que os jogadores gostam, seja em eventos ou no alfa que faremos agora, e é muito importante saber o que vocês gostam e desgostam. Se competitivo for algo que o público quer, então com certeza iremos nessa direção.

Queremos continuar apoiando For Honor por meses e meses, e o feedback dos jogadores influenciará muito esse conteúdo, seja com ferramentas para campeonatos ou modos inéditos. No fim, é tudo sobre a preferência do público mas o game será fortemente competitivo de qualquer forma.

Alguns anos atrás tivemos movimentos de mulheres na internet denunciando assédio sofrido pela comunidade. Como você acha que podemos tornar essa indústria melhor para as jogadoras e desenvolvedoras?

Para mim não é só sobre mulheres, é sobre discriminação em geral. Pode ser sobre raça, orientação sexual ou até mesmo estilo de jogo ou habilidade. Pessoalmente eu acredito que todo jogador e desenvolvedor tem seu lugar. Sou muito inclusiva e penso que podemos aprender uns com os outros. A ideia é ser tolerante com as diferenças, as vezes entro em servidores online e, como falo francês, sou recebida com inúmeras mensagens como "Ah, fala inglês!". Você sabe como é por falar português, provavelmente passa pela mesma experiência.

Os geeks são uma subcultura e nós deveriamos ser unidos para podermos ser respeitados e amados pela cultura principal. Somos muita gente e, ao lutar entre nós, ficamos dividos e enfraquecidos. Não permitir que desenvolvedores sejam de qualquer raça, gênero, tipo ou lugar é negar grandes jogos ao público. Eu amo jogos excelentes e penso que fazer isso é uma má ideia, então espero que as pessoas tenham mentes mais abertas.

Eu vejo grandes avanços na área, sempre sou muito bem recebida e na indústria vejo cada vez mais mulheres e gente diferente se envolvendo. Está melhorando. Ainda temos muito trabalho pela frente mas sinto que o público que é contra isso agora é uma minoria. Estou muito otimista porque notei uma mudança no comportamento das pessoas há uns dois ou três anos atrás, onde cada vez mais gente passou a defender quem sofre ataques ao invés de contribuir com as ofensas.

E esses eventos, como a própria Brasil Game Show, ajudam bastante pois você pode conversar com quem compartilha das mesmas paixões. Jogos são tão poderosos e emocionais que é apenas triste afastar pessoas apenas por não entende-las. Isso pode te ensinar tantas coisas legais, talvez o melhor game da sua vida pode ser feito por alguém muito diferente de você. Enfim, estou otimista, acho que estamos melhorando e espero que os jogadores entendam que todos merecemos grandes jogos, independente de quem você seja.

For Honor tem lançamento marcado para 14 de fevereiro de 2017 no Xbox One, PlayStation 4 e PC. Já a Brasil Game Show 2016 acontece no São Paulo Expo entre os dias 1 e 5 de setembro.