Quando o primeiro grande trailer de Stellar Blade foi ao ar em um State of Play, era impossível não pensar automaticamente em NieR: Automata. Era nítida a inspiração do game da Shift Up na obra-prima de Yoko Taro: protagonista, combate, ambientação e trilha sonora gritavam NieR, mas felizmente, em meio a um mar de várias outras referências nada sutis, Stellar Blade consegue encontrar uma identidade própria.

O jogo é o primeiro projeto para consoles do estúdio Shift Up, que até então focava em jogos mobile. Sua execução teve bastante dedo da Sony, que viu potencial no game e o apadrinhou, assumindo sua publicação internacionalmente e o colocando como um dos poucos exclusivos de PlayStation 5 que sairão em 2024.

Para os jogadores, o potencial ficou mais claro com a demo, que já dava um gosto do combate frenético que o jogo traria. Não somente, um design de personagens extremamente interessante, principalmente no que diz respeito aos vilões, também marcava presença — e esse único aspecto já seria suficiente para que o jogo tivesse um diferencial. Ao longo de toda a campanha, a aparência tenebrosa de cada chefão te surpreende.

Chefão de Stellar Blade
Divulgação/Sony

Aos que ainda não jogaram a prévia, ou não acompanharam tanto os trailers, Stellar Blade é ambientado numa Terra destruída pelos horrendos Naytibas, seres malignos que foram responsáveis pela quase extinção dos humanos. A missão do jogador é retomar o planeta ao derrotar o Naytiba Ancião, controlando a protagonista EVE.

Falando em EVE, já podemos tirar da frente o elefante na sala: sim, a protagonista é bastante sexualizada e, em uma das primeiras cenas do game já tive aquele de pensamento de “Onde eu estou me metendo?”, mas no decorrer das mais de 20 horas de gameplay, essa polêmica é bem menos presente do que eu imaginava.

Claro, EVE tem várias opções de roupas, incluindo algumas curtíssimas e até a opção de ficar praticamente nua, mas há trajes menos explícitos. Ouso até dizer que, em cutscenes, o destaque em partes íntimas da protagonista talvez seja menor do que em jogos que não receberam tanta atenção nesse sentido — alô, Final Fantasy VII Rebirth.

Voltando para o game, EVE é ajudada por dois companheiros na missão de encontrar o Naytiba Ancião: Adam e Lily. O primeiro, um sobrevivente humano, e a segunda, uma engenheira de guerra. As vozes de ambos serão sua companhia ao longo da campanha, que alterna fases bem lineares com sequências que flertam com o mundo aberto.

A dupla de amigos contrabalanceia o carisma quase negativo de EVE, que não é nada expressiva e traz seus melhores momentos com o desconhecimento dos costumes terrestres, já que ela foi criada no espaço.

Lily, personagem de Stellar Blade
Divulgação/Sony

Antes de chegar ao Ancião, EVE ainda precisa derrotar os poderosos Naytibas Alfa. Felizmente, o arsenal para cumprir essa missão é bem vasto, e é aí que o jogo brilha.

Além da espada, também temos uma metralhadora, quatro habilidades ativadas com L1, mais quatro no R1, e a clássica forma aprimorada — como a Fúria Espartana de God of War. Isso tudo é ditado por várias árvores de habilidade, que desbloqueiam combos cada vez mais criativos e complexos, além de modificações no corpo de EVE, que melhoram seus atributos.

É bastante coisa, mas masterizar as combinações mais difíceis é bastante recompensado, pois o dano em comparação à sequência básica de apertar quadrado várias vezes é bem maior.

Se você jogou a demo, o que está disponível ali, mesmo na batalha contra o segundo chefão, já em um ponto mais avançado do jogo, é apenas uma fração de tudo que a protagonista consegue executar. O jogo te introduz a novas habilidades até, praticamente, o início de seu último ato, e pode ter certeza que você vai precisar dominar uma boa parte delas pra conseguir vencer os chefões mais poderosos.

Batalha em Stellar Blade
Divulgação/Sony

Sabendo disso tudo, o começo de Stellar Blade pode parecer um pouco devagar. A ação em lutas que ficam mais para o final da campanha é incrível, mas as primeiras fases se arrastam um pouquinho. Ainda assim, a escalada da ação nas últimas horas de jogo recompensa a espera, e um New Game+, que já está confirmado para chegar futuramente, cairá muito bem.

A ação, inclusive, escala junto com a dificuldade. O game se encerra em um boss rush dificílimo, que coloca pirotecnia em batalhas que se aproximam do soulslike: os últimos quatro chefões são bem complicados e o jogador vai precisar abusar de todas as habilidades que desbloqueou até ali. O sistema de parry, que eventualmente permite ataques mais poderosos, também é um grande aliado nesse desafio.

Controles responsivos e animações extremamente bem feitas ajudam bastante a aliviar o peso dessas batalhas. Afinal, o jogo bebe da mesma fonte de NieR, que tem um dos combates mais prazerosos dos últimos anos; Stellar Blade é um pouco mais complicado e requer mais precisão, mas a satisfação dos combos e parries ainda marca bastante presença.

Saindo do campo de batalha, Stellar Blade também satisfaz nas minúcias: são vários tipos de puzzles para desbloquear baús e novos itens; vale a pena explorar cada canto dos cenários para encontrar elementos escondidos — seja uma roupa nova para EVE ou itens de crafting para melhorar seu arsenal.

Mesmo na calmaria dos campos de suprimentos, onde a protagonista descansa, é fácil perceber o cuidado em animações triviais, como a de inserir uma moeda numa máquina de refrigerantes.

Imagem de divulgação de Stellar Blade
Divulgação/Sony

Em resumo, o jogo da Shift Up é muito competente como game de ação. Os caminhos da história são bem previsíveis e cheios de foreshadowings nada escondidos, mas a vibe pós-apocalíptica em combinação com uma ótima trilha sonora e designs de personagem muito únicos te fazem esquecer um pouco desses problemas.

Boas side quests também complementam bem a campanha, dando mais vida ao pós-apocalipse. Também vale destacar as latas de refrigerante colecionáveis, que além de liberar novos recursos para o jogador, possuem uma história divertida por trás.

Minha maior crítica talvez seja um aspecto técnico. Não de performance, porque o jogo rodou bem no PS5, tanto no modo focado em gráficos quanto no que prioriza FPS, mas a ausência de um modo manual de salvamento é um problema que precisa ser resolvido. É melhor evitar explicações para não dar spoilers, mas saiba que isso gerou algumas frustrações durante a gameplay.

Ainda entre as críticas, mesmo que o jogo encontre uma identidade própria, ele só o consegue por meio de várias referências facilmente identificáveis: NieR é a principal, mas você também vai ver elementos de Bayonetta, Devil May Cry, Death Stranding e Horizon: Zero Dawn.

De qualquer forma, Stellar Blade é uma ótima estreia para a Shift Up nos consoles. Para além das polêmicas quase vazias que rodeiam o jogo antes de seu lançamento, ele pode terminar 2024 como um dos melhores games de ação do ano.

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Stellar Blade
  • Lançamento

    26.04.2024

  • Publicadora

    Sony

  • Desenvolvedora

    Shift Up

  • Censura

    16 anos

  • Gênero

    Ação

  • Testado em

    PlayStation 5

  • Plataformas

    PlayStation 5

Nota do crítico